F.A.Q.


1 - Afinal, as pessoas têm sobrevivido à base de alimentos cozinhados durante muito tempo. Qual é o problema da comida cozinhada?

Durante muito tempo as pessoas acharam também que a terra era plana. Para fazer com que a ciência avançasse, foi preciso confrontar e questionar este paradigma. Acontece exactamente o mesmo com a nossa alimentação. A partir do momento em que os seres humanos se afastaram dos trópicos, começaram a comer carne de modo a substituir a falta de fruta e vegetais que sempre comeram. A agricultura das leguminosas, a caça de animais e a dependência da civilização em comer cozinhados apareceram nos últimos 10.000 anos. Por isso, contrariamente ao que sempre fomos ensinados desde pequenos, nós não somos omnívoros – tornámo-nos omnívoros, passando a comer alimentos que não são adequados para a nossa anatomia. Hoje em dia vivemos na era da informação e já sabemos muito sobre as características e anatomia humana, origem das doenças e processos de cura. De ano para ano, é cada vez mais amplamente reconhecido que os alimentos cozinhados e processados são um dos principais factores que estão na origem de alguns dos grandes problemas de saúde da nossa civilização, tais como: cancro, doenças cardíacas e diabetes.

2 - Que tipo de toxinas se acumulam no corpo ao comer alimentos cozinhados?

Comer carne ou alimentos de origem animal cozinhados provoca excesso de ácido úrico e de amónia, que são tóxicos para o nosso organismo. As proteínas cozinhadas tornam-se desnaturadas e, como resultado disto, não são degradados em aminoácidos. Estes polipeptídeos são considerados invasores estranhos, pelo que o nosso corpo procura eliminá-los logo através dos rins, o que causa distress e pode levar à formação de pedras nos rins ou outros problemas no funcionamento normal. As leguminosas cozinhadas, por sua vez, causam fermentação dentro do organismo, o que produz gás, álcool e ácido acético – venenos protoplásmicos que degeneram cada célula com a qual entram em contacto.

3 - É difícil fazer a transição da típica alimentação portuguesa para uma alimentação predominantemente crua?

Aprender a ter uma alimentação predominantemente crudívora é um processo que leva o seu tempo. Não podemos esperar que a alteração de hábitos que cultivámos ao longo de anos e por vezes décadas, seja feita da noite para o dia. Fazer esta transição (salvo raras excepções de pessoas que a fazem rapidamente devido a condições médicas graves) exige algum tempo, paciência e esforço pessoal. Embora conheça pessoas que conseguiram tornar-se 100% crudívoras numa questão de poucos dias ou semanas, sem nunca ter voltado atrás na sua decisão, este tipo de casos são sempre uma minoria. Na sua grande maioria, as pessoas vêem-se confrontadas com algumas dificuldades e desafios ao longo desta transição, a não ser que a mesma seja feita com orientação e acompanhamento profissional. Dito por outras palavras, trata-se de uma mudança que raramente é feita de forma repentina e que pode levar vários meses ou, inclusivamente, anos. Uma vez que normalmente passamos a maior parte das nossas vidas a estimular excessivamente o nosso paladar com sal, açúcar, especiarias e o glutamato monossódico (msg) presente em quase todos os alimentos, no início a transição para uma alimentação predminantemente crudívora pode custar um pouco. Esta transformação e habituação ao sabor dos alimentos naturais costuma demorar poucas semanas ou meses, mas assim que deixamos de expor os nossos sentidos gustativos às excitotoxinas, os mesmos voltam a recuperar o gosto pela doçura da fruta madura e pela frescura dos vegetais crus.

4 - Como é que é feita a transição dos alimentos cozinhados para os alimentos predominantemente crus?

A melhor forma de começar é ao aumentar significativamente o consumo de fruta e vegetais frescos e crus, à medida que se diminui a quantidade de comida cozinhada, processada e, de alguma forma, alterada. Há pessoas que preferem fazer a transição alterando uma refeição de cada vez, enquanto outras preferem manter os cozinhados em todas as refeições numa primeira fase e ir aumentando gradualmente a percentagem de alimentos crus. Ambas as abordagens são igualmente válidas. A orientação profissional e a elaboração de um plano de transição personalizado são fundamentais para garantir o sucesso de quem está motivado a dar este passo tão importante, mas não sabe como.

5 - Quanto é que devo comer? Devo contar calorias para saber se estou a comer as quantidades necessárias?

A resposta à esta pergunta é sempre extremamente subjectiva. A quantidade de comida que devemos ingerir depende de muitos factores, o principal dos quais é sempre o nosso gasto calórico. Como tal, torna-se claro que uma pessoa activa, mais nova, que vai ao ginásio, pratica várias modalidades e tem uma vida pouco sedentária, precisará de comer sempre mais do que uma pessoa na situação oposta. Durante a fase de transição para uma alimentação predominantemente crua o próprio metabolismo sofre algumas alterações importantes, tornando-se mais rápido mesmo no caso das pessoas com mais de 45 anos de idade (faixa etária que normalmente costuma ser associada a um aumento de peso e metabolismo mais lento). Por isso, mais importante do que contar calorias ou calcurar diariamente as percentagens de proteínas, gorduras e hidratos de carbono ingeridos, é estar atento à sensação de fome e saciedade, porque é esta que nos vai indicar a cada momento se estamos ou não a comer o suficiente. No que diz respeito ao valor nutricional, desde que a grande maioria da nossa ingestão calórica seja proveniente de fruta e vegetais frescos e crus, estando também presente uma pequena porção de azeite/óleo de coco cru, frutos secos crus (nozes, avelãs, amêndoas, etc), sementes (de sésamo, girassol, abóbora, etc), algas marinhas (spirulina, clorela), pólen de abelhas, cacau cru, ervas aromáticas e, opcionalmente, algumas especiarias, as nossas necessidades nutricionais estarão satisfeitas. Por norma, o erro que as pessoas cometem no início é comer pouco e, regra geral, isto acontece por dois motivos: 1) porque existe o medo de engordar, dada a grande quantidade de fruta e vegetais recomendada ou 2) porque quem está habituado a comer alimentos cozinhados, costuma comer um prato normal de comida e ficar logo satisfeito devido a concentração e níveis elevados de gorduras que normalmente a comida cozinhada contém, pensando que o mesmo ocorre quando se come uma pequena quantidade de fruta e vegetais crus. Daí que, a resposta é que sim, provavelmente no início não será má ideia contar algumas calorias para perceber se a quantidade de calorias ingeridas é suficiente. Contudo, basta fazer isto durante 2 semanas para ficar com uma noção e a partir daí todas as contagens e medições acabam por se tornar desnecessárias.

6 - Que quantidades de fruta e vegetais devo comer diariamente?

No início, as pessoas não costumam comer grandes quantidades de comida crua, simplesmente porque estão habituadas a ficar satisfeitas com um prato normal de comida cozinhada, altamente concentrada e muitas vezes com níveis elevados de gordura. Por isso mesmo, quando alguém começa a fazer a sua transição para um plano predominantemente cru, normalmente leva algum tempo até interiorizar que, de facto, é preciso comer uma quantidade significativa de fruta e vegetais para obter a mesma quantidade de calorias que os alimentos processados fornecem. Por outro lado, os crus são a nossa fonte principal de fibra, água e fitonutrientes essenciais para o bom funcionamento do nosso corpo. A fruta contém significativamente mais calorias do que os verdes, daí que, faz sentido que a maioria da alimentação crudívora seja composta por fruta, com algumas saladas verdes grandes e variadas pelo meio, que fornecem minerais fundamentais para o nosso equilíbrio interno, tais como: sódio, cálcio e magnésio. Assim, uma alimentação saudável seria composta por cerca de 90% de fruta fresca e madura, 2-6% de vegetais de folhas verdes e ervas aromáticas frescas e cruas, e 0-8% de outro tipo de vegetais, fruta que não seja doce (ex.: tomate), frutos secos, sementes e superalimentos.

7 - Como é que vou consumir tanta fruta de uma só vez?

O estômago tem uma grande capacidade de adaptação, pelo que se torna sempre uma questão de tempo e de hábito até este permitir a ingestão de quantidades saudáveis e suficientes de fruta. É precisa uma certa prática para desenvolver a capacidade de consumir o que, do ponto de vista do crudivorismo, é considerado uma quantidade normal de fruta para um ser humano. À medida que o nosso sistema digestivo se habitua à esta mudança, a mente acompanha o processo, permitindo-nos criar rapidamente uma imagem mental muito diferente daquilo que achamos que somos capazes de ingerir. Quanto mais fazemos refeições unicamente à base de fruta, vegetais e verduras, mais fácil se torna ter uma noção clara a cada instante sobre o que comer e quanto comer.

8 - Preocupações nutricionais: O meu corpo consegue obter nutrientes suficientes apenas da fruta, vegetais, frutos secos e sementes?

As melhores vitaminas, minerais, antioxidantes, fitonutrientes, enzimas, co-enzimas, água, fibras, hidratos de carbono, proteinas e gorduras provêm da fruta e vegetais frescos e crus. Trata-se de “pacotes completos” cheios de nutrição, que fornecem ao corpo todos os elementos necessários para um funcionamento adequado. De todos os alimentos que estão à nossa disposição, a fruta é aquela que contém mais vitaminas e água, enquanto os vegetais e verduras são a fonte mais rica em minerais e fibra. A conjugação de fruta, vegetais, verduras e quantidades muito pequenas de frutos secos e sementes disponibilizam ao organismo as doses ideais de proteínas e gorduras, fornecendo assim tudo o que o corpo humano necessita para ter uma saúde radiante.

9 - Como é que vou obter as minhas proteínas exactamente? 10% é mesmo suficiente?

Numa alimentação crudívora existe proteína mais do que suficiente para garantir um bom funcionamento de todos os nossos sistemas. Entre 4% a 8% das calorias contidas na fruta provêm de proteínas, enquanto nos vegetais e verduras estamos a falar de uma percentagem que varia ente os 15% a 20%. Tudo isto parece sempre bastante supreendente para as pessoas que passaram toda a sua vida a ouvir que precisamos de quantidades consideráveis de proteína para ser saudáveis. Na realidade, a verdade é precisamente a oposta. Hoje em dia a grande maioria de pessoas sofre diariamente devido a um consumo excessivo de proteínas, o qual está na origem de muitos problemas de saúde, tais como obstipação, excesso de toxinas no organismo e até mesmo cancro. Dito isto, é importante nunca esquecer que a acidez causada pelo excesso de poteínas é extremamente perigosa, uma vez que faz com que o corpo utilize as suas reservas de minerais alcalinos como o cálcio, de modo a manter o balanço ácido-alcalino no corpo. Deste modo, é precisamente o consumo excessivo de proteínas que está na origem de patologias como a osteoporose ou a deterioração dos dentes. Não é por acaso que a fruta e vegetais frescos e crus contêm apenas a quantidade suficiente de proteínas que permite manter o nosso corpo saudável. E sim, 10% é absolutamente suficiente.

10 - Dizem que é preciso cozinhar as leguminosas de modo a aproveitar da melhor maneira os seus benefícios nutricionais. Como é que as posso comer numa alimentação predominantemente crua?

Esta questão sugere que o arroz, trigo, cevada e aveia são alimentos úteis e saudáveis para o corpo humano. Na verdade, não são. O simples facto de precisarem de ser cozinhados para se tornarem comestíveis mostra logo que não são adequados para consumo. As leguminosas promovem a formação de ácido e mucosidade excessiva, aumentando a toxicidade do corpo e o risco de sofrer de cancro ou artrite. Além disso, contêm opióides que são fortemente aditivas, provocando também alterações de humor e contribuindo de forma significativa para o aparecimento de obesidade.

11 - Preciso de tomar suplementos alimentares?

Não há necessidade de tomar suplementos desde que se tenha uma alimentação crudívora adequada e bem implementada. Todas as vitaminas, minerais e outros nutrientes que o corpo necessita para ter um bom funcionamento são fornecidos através da ingestão de fruta, vegetais e verduras. É importante constatar que a maior parte dos suplementos alimentares contêm concentrados de plantas, que no entanto o corpo não aprecia e precisa de expulsar, exactamente como se se tratasse de um resíduo tóxico. Tal acontece dados os níveis extremamente concentrados de substâncias potencialmente boas, que apesar de tudo ultrapassam largamente as capacidades do nosso organismo e não se encontram no seu estado natural. O melhor caminho sempre foi, e sempre será, corrigir a alimentação, em vez de suplementar. Muita gente vive com a ideia de que mais nutrientes é sinónimo de mais saúde, quando na realidade pequenas quantidades destas substãncias podem criar desequilíbrios no organismo, que de outra forma seriam perfeitamente evitáveis. Em alguns casos mais específicos pode ser necessário tomar suplementos durante a fase inicial desta mudança na alimentação e estilo de vida, porque apesar de tudo nossa saúde é sempre uma prioridade quando comparada com uma filosofia de vida. Contudo, suplementar a alimentação é um acto que deve ser feito sempre com muito cuidado e apenas como uma medida temporária.

12 - Se comer demasiado açúcar não é bom para a nossa saúde, porque é que se insiste no consumo de tanta fruta doce e madura?

Antes de podermos utilizar os alimentos como fonte de energia para o nosso corpo, estes precisam de ser convertidos em açúcares simples, sendo que os hidratos de carbono são de conversão mais rápida e fácil para o organismo. A fruta consiste maioritariamente em hidratos de carbono simples, extremamente fáceis de digerir, assimilar e eliminar, proporcionando energia suficiente, sem no entanto sobrecarregar o corpo e retirar-lhe energia (que é o que acontece quando consumimos proteína, gorduras em excesso ou hidratos complexos cozinhados). Um outro aspecto importante é que muita gente cria imagens mentais que não correspondem em absoluto à realidade, nomeadamente; 1) ao falar-se em açúcares muitos são os que pensam que comer muita fruta é como ir ao açucareiro, quando na realidade os efeitos e benefícios da fruta são muito diferentes dos do açúcar branco; 2) uma outra ideia fortemente enraizada nas pessoas é que todos os hidratos de carbono são iguais, o que mais uma vez não corresponde à realidade, pois a digestão, assimilação e eliminação dos hidratos simples (como a fruta) é completamente diferente dos mesmos processos, mas quando se trata de hidratos de carbono complexos (arroz, leguminosas, etc.). Comer demasiado açúcar é, de facto, mau para o nosso organismo, mas tudo depende de que tipo de “açúcar” estamos a falar. Quando se trata de fruta, é virtualmente impossível ultrapassar os limites e sair prejudicados.

13 - Tenho candidíase ou outro tipo de infecção fúngica. Não devia evitar a fruta?

No que diz respeito aos problemas fúngicos e em especial a candidíase, o que é preciso evitar não é a fruta, mas sim as gorduras. Quando os níveis de gordura no sangue aumentam, esta começa a acumular-se nos vasos sanguíneos, bem como nas células e nos receptores de insulina, cobrindo-os de uma camada fina de gordura que bloqueia e inibe a actividade metabólica normal. Assim, os níveis de açúcar aumentam e mantêm-se elevados, uma vez que é precisamente o excesso de gordura que inibe a insulina de encaminhar o açúcar para fora da corrente sanguínea. Onde é que entra a candidíase no meio disto tudo? A cândida é uma presença constante no sangue, mesmo em organismos saudáveis. Funciona como um mecanismo de defesa, pois a sua multiplicação só sai dos padrões da normalidade quando níveis elevados de gordura no organismo começam a inibir as funções normais da insulina, o que aumenta os níveis de açúcar no sangue. Quando estes níveis são estáveis e normais, o excesso de cândida acaba por morrer, tal como é suposto que aconteça. Contudo, se os níveis de gordura se mantêm elevados permanentemente devido a uma alimentação inadequada, o açúcar continua a manter-se na corrente sanguínea, alimentando colónias de cândida, em vez de fornecer energia aos 18 triliões de células no nosso corpo. Por isso mesmo, um dos sintomas de quem tem problemas fúngicos é uma fadiga constante e a sensação de estar permanentemente em baixo. O que está na origem do problema não é o excesso de açúcar per se, mas sim, o que o provoca todo este mau funcionamento– o excesso de gorduras.

14 - Qual é a diferença entre sumos e batidos?

A grande diferença é que o batido contém a polpa, ou seja a fruta ou vegetal inteiro, enquanto no sumo esta polpa é retirada. Normalmente as pessoas perguntam o que é melhor – se beber sumos ou batidos – e a minha resposta é sempre esta: depende. Depende dos objectivos num dado momento, da rapidez com que pretendemos fazer a digestão e dos níveis de energia que queremos ter. Os sumos fornecem picos de energia imediata e são excelentes para antes dos treinos ou de qualquer actividade física mais exigente. Os batidos fornecem energia mais estável ao longo do dia e contêm todas as fibras – solúveis e insolúveis. São excelentes para consumir ao longo do dia, quando sabemos que precisamos de ficar saciados durante várias horas seguidas.

15 - O que é que devo usar para fazer sumos ou batidos?

Normalmente, o que se usa para fazer sumos é uma centrifugadora ou um simples espremedor (no caso dos citrinos), enquanto para os batidos é usado o liquidificador.

16 - É bom fazer sumos tanto de fruta, como de vegetais?

No caso da fruta, tirando algumas (poucas) excepções, como é o caso dos lanches pré-treino cujo objectivo muitas vezes passa por fornecer energia imediata, sou de opinião que e preferível comer a fruta inteira ou fazer batidos, em vez de extrair e consumir apenas parte dela. O mesmo se aplica às cenouras e vários outros vegetais. Isto, porque quando retiramos a polpa (que atrasa um pouco a absorção dos nutrientes), podemos criar picos muito elevados de açúcar no sangue e provocar desequilíbrios desnecessários. Por isso, no geral é preferível consumir a fruta inteira, excepto os citrinos, pois mesmo quando fazemos sumo, uma parte significativa da polpa permanece dentro do sumo. Quanto à restante fruta, é melhor consumir as peças inteiras ou em batidos. As verduras de folhas tenras (alface, espinafre, rúcula, etc.) podem ser consumidas tanto em batidos verdes ou mistos (verdes+fruta), como sob a forma de sumos. Além dos sumos e batidos, usar o liquidificador permite fazer também molhos deliciosos para saladas com 0% de gorduras, bastando para isso misturar fruta e vegetais (ex.: tomates, espinafre, aipo e limão/laranja).

17 - É obrigatório comer fruta e vegetais orgânicos?

Sem sombra de dúvida, é sempre preferível consumir produtos orgânicos, não modificados e livres de pesticidas. Contudo, em vez de ser extremistas neste aspecto, precisamos de ser realistas e de ver as coisas em perspectiva. Ser crudivorista em Portugal não é tarefa fácil, especialmente quando o nosso desejo é consumir tudo orgânico. Quando se tem uma alimentação baseada em grandes quantidades de fruta e vegetais, é extremamente importante comer bem e em abundância. O que acontece com os alimentos orgânicos é que nem sempre são assim tão fáceis de encontrar, além de serem muito caros para a grande maioria dos consumidores. A meu ver, é preferível comer fruta não orgânica em abundância (pois a fruta satisfaz facilmente a maior parte das nossas necessidades calóricas para o dia), do que comer fruta orgânica, mas em quantidades claramente insuficientes. Da mesma forma, é muito melhor comer fruta e vegetais não orgânicos, do que refugiar-se nos cozinhados e comidas processadas, só porque comer produtos orgânicos sai muito caro. Preocupar-se demasiado com pesticidas quando se come comida cozinhada, processada, modificada e completamente alterada e anti-natura simplesmente não se justifica.

18 - Posso continuar a beber café se pretendo ter uma alimentação crudívora?

O café não é benéfico para a saúde, como se diz por aí. A verdade é precisamente a oposta. A cafeína aumenta as catecolaminas, que são hormonas libertadas em situações de stress. A resposta de stress provocada aumenta a insulina, o que por sua vez aumenta os níveis de inflamação e acidez do corpo. Interfere nos processos de absorção do ferro (daí ser péssimo para quem tem anemia ou défices de ferro), além de diminuir os níveis de pepsinas no corpo, que são necessárias na digestão das proteínas. A cafeína é também conhecida por desidratar o organismo e esgotar as reservas de cálcio, magnésio, potássio e vitaminas do grupo B. Por fim, não podemos esquecer que o café é um estimulante cujos efeitos são muito nocivos para o sistema nervoso. É irónico constatar que as pessoas criticam o crudivorismo (porque não acreditam que este estilo de vida fornece as quantidades suficientes de proteínas), enquanto têm um consumo diário de café suficiente para bloquear a absorção de toda aquela proteína que afirmam ser indispensável.

19 - Porque é que não devo comer grandes quantidades de abacates, frutos secos e sementes?

Os abacates, frutos secos e sementes contêm quantidades de gordura extremamente elevadas. A questão é que no que diz respeito às gorduras, embora possamos dividi-las em mais ou menos boas, na realidade a sua origem não interessa assim tanto. Gordura é gordura. Esta vai do sistema linfático directamente para o sangue. Quando falamos em excesso de gordura, estamos a falar em sangue mais espesso e viscoso, que faz com que os glóbulos vermelhos fiquem aglutinados e amontoados, o que não só deixa os vasos capilares entupidos, mas também não permite a oxigenar devidamente as células. O excesso de gorduras bloqueia também a função normal da insulina, podendo provocar vários problemas de saúde. Por estes motivos, é preferível comer apenas pequenas quantidades de abacates, frutos secos e sementes, até porque juntamente com as quantidades presentes na fruta, verduras e vegetais frescos e crus, isto será mais do que suficiente para garantir um bom funcionamento.

20 - Vou perder peso com este tipo de alimentação?

Quando as pessoas iniciam este estilo de vida com excesso de peso, o peso extra acaba sempre por ser eliminado. Contudo, somos todos diferentes e não existe uma fórmula que permita calcular a rapidez, eficácia e quanto tempo irá demorar este processo. Tudo depende até que ponto o mesmo é visto como uma simples e básica dieta de emagrecimento ou como um estilo de vida. Há pessoas que começam logo a perder peso, enquanto outras demoram vários meses até que comece a notar-se uma perda mais significativa.

21 - Eu tenho peso baixo e gostava de engordar. Este tipo de alimentação é adequado para mim?

Um peso muito abaixo do normal é igualmente preocupante que o excesso de peso, especialmente quando se trata de alguém que até come muito, mas mesmo assim não consegue ganhar peso. Nestes casos o melhor a fazer para lidar com esta situação é procurar descobrir a verdadeira origem do problema. Frequentemente esta costuma estar relacionada com a presença de problemas fúngicos, parasitas intestinais ou alterações hormonais. Os três podem ser resolvidos com uma alimentação predominantemente crua. Por isso sim, este estilo de vida é também para gente de peso baixo. O que acontece é que o processo pelo qual estas pessoas costumam passar é diferente daquele que se observa nos casos de excesso de peso. Por norma, numa 1ª fase as pessoas com peso baixo precisam de fazer uma desintoxicação mais prolongada para eliminar a origem do problema -fase esta durante a qual é possível perder mais peso. Tudo isto deve ser encarado com calma, porque assim que o corpo volta a ser saudável, o peso normal é recuperado e mantido. Existem também métodos específicos para aumentar a massa muscular sem aumentar a massa gorda, que se revelam muito eficazes, assim que o verdadeiro problema é eliminado.

22 - Vou ficar mais inchado/a ou com mais gás se tiver uma alimentação predominantemente crudívora?

A resposta é...depende. Numa primeira fase (durante as desintoxicações períodicas ou a transição gradual para uma alimentação predominantemente crua) algumas pessoas referem este problema, sendo que o mesmo pode variar em termos de intensidade e duração. Inicialmente problemas de gás podem surgir devido a um sistema digestivo deficiente, que mantém os alimentos nos intestinos mais do que o tempo necessário, onde os mesmos acabam por fermentar ou apodrecer, causando gases. Com o tempo, e quanto mais o sistema digestivo fica limpo e fortalecido, este problema começa a desaparecer gradualmente. Quando o gás tem um cheiro desagradável, normalmente isto está relacionado com putrefacção de proteínas ou resíduos de comida cozinhada; quando não tem um odor desagradável, resulta da fermentação de açúcares, que por norma ocorre quando existe excesso de gorduras no sangue. Dar algum tempo ao tempo até limpar bem os nossos sistemas e aprender a combinar bem os alimentos permite resolver o problema por completo.

23 - Vou experienciar os famosos sintomas de detox se comer desta maneira?

É difícil generalizar, pois cada pessoa reage de forma diferente e a ritmos difrentes. Por norma, a grande maioria de pessoas experiencia algum tipo de sintomas moderados de detox, assim que os resíduos tóxicos acumulados dentro do corpo começam a diminuir. Os sintomas iniciais mais frequentes costumam ser: dores de cabeça, rigidez muscular, cansaço e necessidade de dormir mais, sintomas típicos de constipação (nariz a pingar, uma súbita dor de garganta ou tosse), gases e outros problemas digestivos, bolhas, manchas vermelhas ou outro tipo de alergia estranha na pele, etc. Há quem tenha apenas alguns, há quem tenha todos estes e mais alguns...e há quem não tenha nenhuns. Existem também as pessoas que inicialmente não experienciam qualquer tipo de sintomas de detox, e só começam a senti-los passados vários meses. O importante a reter é que podem acontecer e aparecer coisas mesmo muito estranhas, mas é preciso manter a calma e não entrar em pânico. Ter sintomas de detox até é uma coisa muito positiva, porque indica que o corpo activou os mecanismos e processos necessários para eliminar os resíduos tóxicos e regenerar-se. Normalmente tudo desaparece numa questão de poucos dias.

24 - Qual é o melhor tipo de fruta para desintoxicar?

A meu ver, todo o tipo de fruta é excelente. Não existe tal coisa como fruta boa ou fruta má. Contudo, quando se trata especificamente de processos de desintoxicação, penso que devem ser privilegiados os citrinos (laranjas, toranjas, limões, tangerinas, etc), os melões (melão, melancia, papaia), uvas e frutos silvestres.

25 - Afinal quem é que tem razão – somos mesmo omnívoros?

A nossa anatomia, fisiologia, bioquímica e psicologia indicam que não somos omnívoros, nem carnívoros, nem mesmo herbívoros...mas sim, frugívoros! Ou seja, somos seres que deveriam comer predominantemente fruta doce, vegetais de folhas verdes e tenras, como também vários tipos de fruta que não é doce, nomeadamente: tomates, courgettes, pepinos, pimento, beringela, abóbora, quiabo. Algumas pessoas adoptam uma alimentação totalmente frugívora, mas a meu ver é extremamente importante incluir também os vegetais de folhas verdes, pois estes fornecem minerais e outros nutrientes que são fundamentais para o nosso equilíbrio físico, mental e saúde radiante. Permitir que a fruta seja o elemento predominante, torna a alimentação crudívora fácil de manter e muito benéfica para o corpo e a alma.

26 - Fruta e candidíase; Fruta e diabetes; Fruta e cancro: Como é que tanta fruta afecta os nossos níveis de açúcar e sistemas no geral?

As questões que devem ser colocadas em primeiro lugar, antes de apontar o dedo à fruta por males que esta nunca poderia causar, são as seguintes: 1) Alguma vez conhecerem alguém cuja candidíase foi provocada por excesso de fruta?; 2) Alguma vez conheceram alguém cuja diabetes foi provocada por fruta?; 3) Alguma vez conheceram alguém que ficou com cancro porque estava a comer demasiada fruta? Se comer fruta não foi o que causou estes problemas de saúde, porque é que alguém pensaria que evitar a fruta ajudaria a resolvê-los? Ter uma alimentação baseada predominantemente em fruta fresca e madura em quantidades generosas não cria níveis de açúcar elevados no sangue...não quando se segue uma alimentação crudívora hipolipídica (baixa em gorduras). Quando os nossos sistemas não estão entupidos por excesso de gordura, mesmo a fruta de índice e/ou carga glicémica elevados entram e saem do organismo com facilidade, o que não destabiliza os níveis de açúcar. Unicamente a combinação entre muito açúcar e muita gordura é que pode provocar açúcar elevado no sangue. O mesmo se aplica aos problemas fúngicos como é o caso da candidíase. O que deve ser evitado durante alguns tempos não é a fruta, mas sim a gordura – pois é o que causa um aumento anormal dos níveis de açúcar, o que é um manjar dos deuses para a cândida, que continua a multiplicar-se e a manter o problema. No caso do cancro, praticamente todas as organizações internacionais defendem que a fruta é muito benéfica para este tipo de pacientes. O cancro tem sido sistematicamente associado com uma acidose generalizada do corpo, e a boa notícia é que o crudivorismo permite combater precisamente este problema, uma vez que aumenta a alcalinidade do organismo e a oxigenação adequada das células.

27 - Porque é que dietas como a Atkins ou a Zona não são adequadas nem saudáveis?

Todo o tipo de dietas pobres em hidratos de carbono, baseiam-se na ideia de que a insulina é a origem de todos os males. Por isso, defendem que devemos limitar a ingestão de hidratos ao máximo, de modo a limitar a libertação de insulina. Contudo, além de se tratar de tipos de alimentação que aumentam incrivelmente a acidez do corpo, o que estes autores não têm em consideração é que os alimentos ricos em proteína e gorduras podem produzir igualmente uma libertação substancial de insulina. Aliás, muitas vezes lê-se em revistas científicas como a Journal of Clinical Nutrition, que a carne provoca a maior libertação de insulina do que qualquer outro alimento, ou então que o queijo e bife aumentam os níveis de insulina mais do que qualquer outro hidrato de carbono complexo cozinhado (ex.: massa). Daí que os argumentos que servem de base para as dietas ricas em proteínas e gorduras e pobres em hidratos de carbono, simplesmente não são plausíveis.

28 - Porque é que é mau misturar açúcares simples e gorduras?

Basicamente, porque têm tempos de digestão muito diferentes. Os açúcares permanecem pouco tempo no estômago. As gorduras, em contrapartida, exigem bastante mais tempo (frequentemente 24h ou mais) para chegarem às celulas. Assim, quando temos uma alimentação rica em gordura e a seguir comemos fruta ou salada, estes hidratos de carbono muitas vezes ficam por cima de gorduras ainda do dia anterior, o que aumenta os níveis de açúcar no sangue, atrasa a digestão e frequentemente provoca problemas de fermentação.

29 - A fruta ácida não aumenta a acidez do corpo?

Não. Muita gente pensa, erradamente, que o consumo de fruta mais ácida como é o caso dos citrinos, irá tornar o corpo mais ácido. A química por trás dos processos digestivos mostra que isto não é verdade. É o conteúdo mineral que determina se um dado alimento vai produzir uma reacção ácida ou alcalina dentro do corpo. Uma vez que os minerais alcalinos são predominantes em praticamente qualquer fruta, incluídos os citrinos, podemos dizer que os mesmos têm inclusivamente um efeito alcalino no corpo. Mesmo que a fruta não seja assim tão alcalina como alguns vegetais de folhas verdes, dizer que tornam o corpo mais ácido não tem qualquer fundamento.

30 - Quais são as fontes de vitamina B12 numa alimentação crudívora?

Bananas, uvas, sementes de girassol cruas, pólen de abelhas. Um análogo da B12 pode ser encontrado na spirulina – produto amplamente utilizado também pelas suas quantidades de proteína e ferro.

31 - Que tipo de alimentos aumentam a nossa acidez?

Alimentos cozinhados; gorduras que passaram por processamento térmico (assar, fritar, etc.); quantidades excessivas de frutos secos e sementes; tabaco; todo o tipo de estimulantes, incluindo o café; álcool, bebidas com gás, chá preto; níveis elevados de stress; ausência ou excesso de exercício físico; raiva, medo e emoções negativas. Tudo isto afecta o balanço ácido-alcalino, tornando o nosso organismo mais ácido, mais rígido e predisposto ao aparecimento de inflamações, dores e doenças.

32 - Quais são exactamente os benefícios de ter uma alimentação predominantemente ou 100% crudívora?

Ao adoptar uma alimentação baseada em alimentos naturais, o nosso organismo começa a lidar muito mais facilmente com o lixo metabólico e com a eliminação de resíduos tóxicos do passado, normalizando o seu peso. Alguns dos principais benefícios que podemos esperar, além dos anteriormente referidos são: 1) digestões rápidas e fáceis, que não sobrecarregam o corpo, nem forçam os nossos órgãos a trabalhar constantemente no limite das suas capacidades para poder eliminar todas as toxinas e resíduos; 2) níveis mais elevados de energia; melhoria da qualidade do sono e (eventualmente) necessidade de dormir menos que o habitual; 3) órgãos e sistemas mais limpos e desintoxicados e um corpo mais forte; 4) uma pele mais limpa, radiante e naturalmente luminosa; 5) Olhos mais limpos e brilhantes, cabelo mais macio e unhas mais fortes; 6)Ausência de inflamações e dores de qualquer tipo; 7) um corpo mais flexível e menos rígido na zona dos ombros e pescoço, onde normalmente as pessoas acumulam muita tensão; 8) humor positivo e maior claridade mental; 9) aumento significativo das defesas do corpo; 10) peso ideal mantido com facilidade.

33 - Como é que posso fazer a transição facilmente?

Algumas pessoas optam por começar a transição alterando apenas o pequeno-almoço, passando a consumir fruta fresca sob a forma de peças inteiras, sumos ou batidos. Quando já se sentem suficientemente à vontade com esta mudança, passam para o almoço e, finalmente jantar, até alcançar um tipo de alimentação predominantemente crudívoro. Outras pessoas optam por manter a sua alimentação tal e qual como ela é, passando a aumentar gradualmente a quantidade de fruta e vegetais frescos e crus. O que acontece com o tempo é que quanto mais aumentamos a percentagem de alimentos crus, mais começa a desaparecer a vontade de comer alimentos demasiado cozinhados e processados. As duas abordagens são igualmente válidas, contudo a meu ver a primeira é mais rápida e eficaz ao nível dos benefícios e resultados obtidos.

34 - É normal sentir o estômago inchado e ter mais gases ao comer apenas alimentos crus?

Numa fase inicial de detox ou transição pode ser normal, sim. Normalmente nestas fases os problemas de gás aparecem em pessoas que têm tratos digestivos inflamados ou danificados, que fazem com que alguma comida e resíduos acumulados entrem em processos de fermentação ou putrefacção, o que acaba por provocar o gás. Com o tempo e com a regeneração dos intestinos, a sensação de inchaço e gás diminui, até desaparecer por completo. Quando o mesmo problema aparece em pessoas que até costumam fazer desintoxicações periódicas e mantêm uma alimentação predominantemente crudívora há muito tempo, o excesso de gás pode ser provocado por uma combinação de alimentos inadequada.

35 - Apesar de tudo, os humanos são diferentes dos restantes animais. Não deveríamos ter uma alimentação diferente?

Normalmente as pessoas perguntam como é que a alimentação crudívora pode aplicar-se a pessoas de todas as idades, tamanhos, graus diferentes de actividade física/sedentarismo, etc. O que acontece é que a Natureza proporciona a comida ideal para todos nesta Terra, sendo que seres da mesma espécie por norma comem de forma muito parecida. Por exemplo, os cavalos e todas as restantes criaturas anatomicamente parecidas (zebras, burros, etc.), comem alimentos muito parecidos – estamos a falar das mesmas categorias alimentares para as quais os seus sistemas biológicos foram desenhados. Não devemos permitir que alguém nos diga que, em todo o reino animal, os seres humanos fogem à estas regras básicas, porque tal afirmação está longe da verdade. Não existem excepções. Todos os animais que são anatomicamente e fisiologicamente parecidos, comem de forma muito semelhante – é assim que é suposto ser. Já que todos os animais que são anatomicamente e fisiologicamente parecidos connosco, conhecidos como primatas antropóides (gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos) têm uma alimentação crudívora hipolipídica baseada predominantemente em fruta e alguns vegetais, quer queiramos aceitar este facto ou não, nós também fomos desenhados para ter exactamente o mesmo tipo de funcionamento. É desta maneira que conseguimos sempre optimizar a nossa saúde. Não há necessidade de complicar estas simples regras, tão bem apresentadas em milhares de exemplos que tornam a natureza absolutamente perfeita tal e qual como é.

36 - Porquê calcular percentagens de hidratos de carbono, proteínas e gorduras? Não posso comer apenas fruta, vegetais, frutos secos e sementes nas quantidades que me apetecer?

Usar o modelo de percentagens de calorias tem a grande vantagem de nos permitir avaliar e discutir o consumo apropriado de hidratos de carbono, proteínas e gorduras, independentemente das diferenças individuais. Assim, tanto uma pessoa sedentária que come 1500 kcal. por dia, como um atleta que consome cerca de 4000 kcal. por dia terão uma alimentação com a mesma proporção - 80:10:10. A única diferença é que a primeira pessoa irá ingerir muito menos calorias do que a segunda, mas mesmo assim, mantendo a mesma proporção de hidratos de carbono, proteínas e gorduras.