29 novembro, 2019

Entrevista com o André de Oliveira - Yoga, Medicina Tradicional Chinesa e uma visão holística da Saúde e da Vida


Terapeuta, autor do livro “Peónia Vermelha”, professor de Yoga, amante da natureza, um observador curioso deste jogo que é a nossa existência e alguém que consegue desfrutar dos prazeres da vida, mas ainda assim olhar para além do corpo físico – este é o André através do meu olhar. Quantas mais facetas tem o André de Oliveira e qual delas é a grande motivação na tua vida?

R: O teu olhar é cirúrgico e acho que fizeste uma boa leitura. Sem dúvida que há muito mais para contar e viver, dimensões que talvez não mostre tanto. No entanto, se tivesse de escolher algo que me definisse e resumisse, diria que aquilo que me move essencialmente é fazer deste mundo um lugar muito melhor. Quando cá cheguei, apercebi-me que havia uma série de coisas fora do sítio (risos). Mas falando mais sério, sinto do fundo do coração que a nossa contribuição é fundamental para criar um mundo melhor, com mais harmonia, mais celebração da vida, mais paz, mais respeito pela natureza que, no final de contas, é a nossa casa. Então sinto que através do meu trabalho como terapeuta, e enquanto contador de histórias, dou a minha contribuição para as pessoas que querem ser ajudadas e que querem crescer de alguma forma.

Escrita, medicina tradicional chinesa, Yoga…Fala-nos um pouco sobre o que motivou estas escolhas de vida e percurso profissional?

R: Desde cedo me questionava sobre o sentido da vida. Lembro-me que com 14 anos comecei a ter imensas dores de estômago que me deixavam completamente de rastos. Lembro que havia noites em que tinha tantas dores que passava três ou quatro dias para recuperar. O problema era que quando recuperava, voltava a ter uma nova crise. E isto andou assim durante uns tempos até que me comecei a questionar sobre o sentido da vida, o que andamos aqui a fazer, quem somos e para onde vamos. As típicas questões existencialistas que nos assolam quando estamos assoberbados por sofrimento ou algum tipo de dor. Com o tempo, fui procurando ativamente o meu caminho. Queria encontrar sentido, queria curar-me e contribuir para um mundo melhor. Foi algo que despertou em mim muito cedo. Então descobri as artes como forma de expressão pessoal, algo que me aliviou imenso a dor e o sofrimento interno que vivia naquela altura, e que ainda hoje é uma das minhas terapias preferidas. Encontrei esse alívio através da música e da escrita e, mais tarde, através do teatro. Fiz o curso profissional da Academia Contemporânea do Espetáculo e tornei-me ator. Logo depois, nessa busca incessante que continuava a queimar-me o coração, comecei a estudar e a praticar Yoga e meditação, pois precisava de algo que me ajudasse internamente. Daí até encontrar a Medicina Tradicional Chinesa foi um passinho.

Enquanto terapeuta, sentes que hoje em dia o interesse pelas filosofias orientais e por uma visão mais holística da saúde está a aumentar? 

R: Sem dúvida. É evidente que as pessoas nos procuram cada vez mais. Embora continue a existir algum preconceito, isso acontece única e simplesmente por causa da ignorância, pois quando as pessoas procuram a informação e se abrem a ela, compreendem que estas abordagens holísticas lhes dão as respostas que a medicina alopática infelizmente ainda não consegue dar. Acho fantástico haver cada vez mais procura por parte de tanta gente. Tenho pena de ver que algumas das pessoas que deviam estar mais informadas e preparadas, como médicos e outros profissionais da saúde, continuem a ter preconceito em relação a terapeutas como nós. Mas isso é uma questão de tempo. Acredito que em breve estas terapias e a nossa profissão seja devidamente regulamentada e implementada no sistema nacional de saúde porque são evidentes as vantagens que existem em terapias como acupuntura, a naturopatia, a homeopatia e restantes terapêuticas não convencionais.  

À luz da medicina tradicional chinesa, o que é a saúde e quando se instala a doença?

R: De forma muito resumida, na medicina tradicional chinesa, saúde é um estado ótimo de vitalidade física, emocional, mental e espiritual do ser humano. Nesta medicina, vemos o ser humano como um todo, há uma visão holística do Homem. Então tudo é importante, tudo está ligado e tudo tem uma razão de ser. Não consideramos as doenças separadamente como a medicina alopática. Na MTC vemos as doenças como um desequilíbrio emocional/energético que afeta o mental/físico da pessoa. Nesta visão holística, todas as emoções são importantes e têm a sua função no organismo e no comportamento humano. No fundo, os grandes médicos chineses ancestrais já sabiam que os pensamentos e as emoções estavam intimamente relacionados com o bem-estar físico e mental dos pacientes. Na realidade, quando estudamos os grandes clássicos da MTC, as nossas “bíblias” como eu gosto de lhes chamar, dá para perceber que eles são autênticos tratados de psicologia humana que deveriam ser estudados nas escolas de psicologia e psiquiatria atuais.   

Na tua opinião pessoal, quais são as características da sociedade atual que mais nos levam a adoecer?

R: Sem dúvida o estilo de vida rápido e acelerado que levamos. Parece-me que é este estilo de vida que nos leva a perder o sentido daquilo que é mais importante para nós e nos descentra, fazendo-nos esquecer de quem somos. É o ritmo acelerado que nos faz esquecer de nós mesmos e manter o nosso cérebro e sistema nervoso numa frequência de alta produção de stress e ansiedade que nos leva a desarmonias permanentes. Dessa forma, o corpo começa a ajustar-se ao stress e à ansiedade como algo “normal” e a produção de cortisol e outros químicos inunda e intoxica todo o nosso organismo tornando-o desequilibrado e doente. Penso que a cultura do medo e da mediocridade amplamente divulgada pela televisão e meios de comunicação social é outra das grandes razões para nos sentirmos constantemente ansiosos, deprimidos e com medo do futuro. Tudo isto conjugado com uma má alimentação e outros maus hábitos leva-nos facilmente à doença. 

A questão da energia vital e da forma como tudo flui no nosso corpo é algo que ainda continua a ser demasiado abstrato para muita gente. Há uma maneira mais simples de explicar isso aos nossos leitores?

R: A forma mais simples que eu costumo usar para explicar é tentando mostrar como tudo é energia em diferentes frequências. O ar é uma frequência de energia menos densa que nos permite facilmente “passar” através dele enquanto que a água é uma frequência ligeiramente mais densa que lhe dá a consistência que todos nós conhecemos. Depois temos, por exemplo, o nosso corpo físico que é um conjunto de frequências mais densas ou uma parede de betão com uma frequência ainda mais densa que o nosso corpo. Então quanto mais densa é a frequência, mais difícil é “trespassar” esse “corpo”. Dessa forma, torna-se mais fácil compreender que para além da matéria física do nosso corpo (músculos, tendões, órgãos internos, sangue, etc) que correspondem a diferentes frequências de vibração, existem outras “energias” ou frequências que dão ordem ou caos ao nosso sistema. Hoje em dia já temos leitores do campo eletromagnético que nos permite medir a frequência geral a que vibramos. Então é interessante vermos que alguém que tenha um campo eletromagnético mais amplo e com uma frequência mais alta, tenha naturalmente uma saúde mais vigorosa, equilibrada e resistente que uma pessoa com um campo eletromagnético reduzido. De forma simplificada, a energia vital que flui pelo nosso corpo é como a eletricidade que flui num sistema elétrico. Se existe abundância e harmonia nesse fluxo elétrico, o sistema funciona. Se existe abundância e harmonia na energia vital do corpo humano ele irá funcionar no seu potencial máximo.

O que cria bloqueios energéticos no corpo?

R: Na visão da MTC, as principais razões para os bloqueios energéticos são as emoções desequilibradas como, por exemplo, excesso de raiva, frustração, alegria excessiva, demasiada tristeza ou depressão prolongada. Para além disso, qualquer trauma ou choque emocional podem também causar bloqueios energéticos. Depois temos as razões externas como acidentes físicos em que, por exemplo, partimos um braço e gera-se localmente um bloqueio energético que causa dor e desconforto até se regenerar ou curar totalmente. 

Existe ligação entre mente, emoções e estado físico? Qual é a melhor forma de manter estas componentes em equilíbrio? 

R: Claro que sim. Em pleno século XXI, continuarmos a pensar que a mente (atividade cerebral e corporal), as emoções e o nosso estado de saúde física estão separados de alguma forma, é continuar a viver em pleno século XIX. É por demais evidente que tudo está ligado e que o corpo humano é um “computador” incrivelmente sofisticado. Na MTC temos uma visão holística do ser humano e vemos o aspeto/estado físico do paciente como um reflexo do seu estado emocional e da sua atividade mental, e vice-versa. É possível fazermos um diagnóstico inicial do estado mental da pessoa através da face e do seu aspeto físico, da forma como fala, como respira e como se move. Então, para nós, terapeutas de MTC, tudo é indicador do estado de saúde do paciente. Ou seja, tudo está ligado. 

Os problemas gastrointestinais, dermatológicos e autoimunes são algo cada vez mais frequente na sociedade hoje em dia. Que tipo de ajuda nos pode dar a medicina tradicional chinesa nestes casos, de modo a restabelecer o equilíbrio? 

R: Esses são, sem dúvida, alguns dos problemas mais atuais e graves que nos estão a surgir. A questão é que eu teria de ver caso a caso e diagnosticar em profundidade, tentando encontrar a raiz do desequilíbrio que leva à manifestação da doença. Ou seja, tornar-se-ia simplista estar a dar dicas gerais para estes problemas que podem ter causas tão variadas e profundas. Dessa forma, prefiro aconselhar a que cada pessoa com este tipo de problema de saúde encontre um bom profissional para que ele assim possa diagnosticar e estabelecer uma estratégia de tratamento que lhe permita obter os melhores resultados possíveis. E sim, são tudo doenças, ou desequilíbrios, que se tratam com a MTC.

Tenho curiosidade de que forma um terapeuta como tu olha para a compulsão alimentar e para tudo o que é uma combinação de falta de controlo e algo que se faz em excesso? Visto que o stress e os estados emocionais negativos muitas vezes desbloqueiam essa resposta, existe algo que a medicina tradicional chinesa pode fazer por alguém que sofre de compulsão alimentar ou de outro vício com funcionamento semelhante? 

R: Acho que já começaste a responder à pergunta dentro da própria pergunta (risos). De facto, todo o tipo de comportamento compulsivo terá a sua raiz num desequilíbrio baseado no excesso de stress a que o paciente está exposto. De forma muito simplificada, uma compulsão por alimentos doces poderá mostrar-nos um desequilíbrio no funcionamento do “Sistema Terra” que engloba o estômago e o baço. A necessidade de comer muitos salgados indica um possível desequilíbrio no “Sistema Água” que envolve os rins e a bexiga. Então, a partir dessas correlações entre “Sabores” e “Sistemas”, conjugado com o restante diagnóstico, iremos tentar equilibrar o sistema afetado de forma a que a compulsão fique estabilizada e deixe de afetar o paciente. Para isso usamos principalmente acupuntura e fitoterapia, se bem que a massagem também seja fundamental.  


O corpo fala. Concordas com esta expressão? Quais são os aspetos aos quais devemos prestar mais atenção para aprender a prevenir, em vez de remediar?

R: Sem dúvida. O corpo diz-nos tudo. Na MTC, fazemos o diagnóstico do paciente observando o seu corpo. Todo o corpo nos dá informação valiosa para confirmar o diagnóstico e as “queixas” do paciente. Na MTC temos a observação da língua, do pulso, a tez do paciente, a voz e o próprio cheiro, imagina! O método de diagnóstico que conhecemos como Iridologia atualmente, é também um dos métodos de diagnóstico mais importantes na medicina chinesa. Devemos estar atentos a todo e qualquer sinal que o corpo nos dê como, por exemplo, falta de apetite ou apetite excessivo. Eu compreendo que, não sabendo estes princípios, é natural um paciente dizer-me que está sempre com fome e que sempre foi assim, sempre teve tendência a ser “comilão” ou ter alguma pequena “obsessão” por um alimento específico. No entanto, nós que estamos na área, podemos fazer uma série de ligações, e após o diagnóstico iremos compreender qual é a falta nutricional, desequilíbrio bioquímico/energético ou emocional pelo qual a pessoa está a passar. Devemos também estar atentos ao facto de nos sentirmos cansados física e emocionalmente por períodos longos. Compreendendo que o ritmo de vida atualmente é muito intenso, é natural que surjam períodos de cansaço com necessidade ao recolhimento para recuperação física e mental da pessoa. No entanto, quando este cansaço se torna “crónico”, ou se apresenta de forma prolongada ou permanente, é importante agir porque o estado natural do ser humano deve ser um estado de grande vitalidade e bem-estar emocional, ao contrário do que nos ensinam alguns dos maiores representantes do “status quo” no que toca à saúde e medicina.

Nas minhas consultas que, como sabes, são muito focadas no comportamento alimentar, observo constantemente a importância das emoções nos hábitos de vida e estado de saúde. Existe uma grande tendência para suprimir, para “varrer para debaixo do tapete” e até negar estados emocionais negativos, acreditando que ao fazer de conta que não existem, elas não terão poder sobre nós. Qual tem sido a tua experiência e de que forma achas que as emoções afetam a nossa saúde física e mental?

R: A minha experiência tem sido muito interessante porque me revejo muito nos meus pacientes. Existe sempre algo deles que reside em mim, nem que sejam pequenos núcleos no subconsciente e que vêm à flor da pele quando estou com eles. Tenho vindo a perceber isso com o passar do tempo. Ou seja, todos os pacientes me ensinam algo de mim mesmo e por isso todo e qualquer julgamento que costumava ter, acaba por ficar bem mais brando. É um fenómeno muito interessante. Quanto ao “varrer para debaixo do tapete”, a supressão de emoções e a negação, são todos comportamentos muito mais comuns do que aquilo que se pensa. Normalmente, acho muita piada aos pacientes que dizem não suprimir/reprimir nada, ou que não negam as suas emoções porque costumam ser os que mais se “protegem”, usando essas “técnicas”. A raiva, por exemplo, é uma das emoções que sempre esteve muito presente no meu subconsciente e à qual eu não dava grande atenção consciente, e que até considerava nem ter. No entanto, nos últimos anos, entrei num processo muito intenso de auto-cura que me levou a ver a enorme quantidade de raiva suprimida que eu guardava no corpo. Este tipo de fenómenos é muito comum. Custa e dói muito olhar nos olhos da nossa “sombra”, da nossa escuridão. Mas é um processo que tem de ser encarado. É óbvio que o “varrer para debaixo do tapete” nunca resolveu nada e “otimismo vazio” também não. Acho super importante cultivarmos um “mindset” positivo e otimista, no entanto negar que temos falhas e dores e problemas internos a resolver só faz com que esses problemas se agravem.

Na tua opinião, o que se deve fazer com estados emocionais (vistos como) negativos, tais como ansiedade, depressão, raiva, frustração, desmotivação? 

R: Na ansiedade, precisamos de ir à sua raiz e resolvê-la. A ansiedade pode ter inúmeras causas, mas a mais fundamental é a falta de um pai ou presença (pilar) masculino na nossa infância. A energia masculina, representada pelo pai - ou algum modelo de masculinidade na nossa família, dá-nos estabilidade e a segurança. Quando o pai é ausente ou a sua presença é desequilibrada, é lançada a semente de um medo profundo no subconsciente da criança que se manifesta como ansiedade, por não ter essa estabilidade e segurança que necessita. Então é comum que uma pessoa que sofra de ansiedade crónica, tenha na realidade a raiz do problema na sua infância, mesmo que não se lembre do(s) momento(s) em que o trauma se iniciou.
Na depressão, é importante libertar o fígado e ajudar a pessoa a projetar-se no futuro, em vez de permanecer presa ao passado. Na MTC, vemos a depressão como uma estagnação de Qi do Fígado, uma condição muito comum, hoje em dia, devido às dificuldades da vida quotidiana e da rapidez com que o mundo se transforma e muda. Grandes choques ou traumas emocionais podem ser também causadores de estagnação do Qi do Fígado, levando ao que chamamos de “depressão”. Teremos então de libertar o Qi estagnado do Fígado e estimular o seu livre fluxo para que a pessoa se liberte do acontecimento que a deixou presa ao passado e possa viver o seu presente, projetando um futuro promissor e entusiasmante.
A raiva e a frustração estão muito próximas (na visão da MTC) e precisam ser expressas, progressiva e inteligentemente, através do movimento físico e da criatividade. Estão ambas intimamente relacionadas com o mau funcionamento do Fígado. A raiva é a expressão de algum desejo que não foi vivido e, por consequência, reprimido no interior da pessoa. A frustração é uma energia/emoção que só surge após um longo período de supressão, é uma expressão de algo com enorme carga emocional que foi sendo acumulado ao longo do tempo. Então precisa ser expressa de forma progressiva, inteligente e criativa porque é o lado negro da energia criativa, relacionada com o fígado.
A desmotivação precisa ser reprogramada, ou seja, uma pessoa desmotivada é uma pessoa que perdeu o seu rumo. A desmotivação é algo que pode ser agravado por problemas nutricionais, mas a sua raiz está no facto de a pessoa sentir que está a usar o seu tempo e energia em algo que não acredita. Na visão da MTC, poderemos relacionar a típica “desmotivação” com um vazio de Qi do Rim ou do Coração, mas cada caso é um caso e teríamos de perceber qual dos sistemas estaria desequilibrado.

Fiquei intrigada e muito interessada nas tuas consultas de Cura Profunda. Podes explicar em que consistem e para quem são indicadas? 

R: A consulta de Cura Profunda é uma consulta especial. É um processo mais longo que o normal, pode levar de 1h30 a 3 horas. É um processo que envolve um diagnóstico completo para saber o problema que o paciente quer resolver ou começar a tratar. É uma consulta que envolve as várias terapêuticas que pratico, mas desta vez com um toque especial porque é uma consulta onde me guio muito pela intuição, tentando compreender a verdade por detrás do óbvio que o paciente me diz. Então faço uma leitura energética da pessoa aquando do diagnóstico e depois a consulta pode tomar muitos rumos. Normalmente, aplico as terapêuticas que uso no dia-a-dia, mas de forma conjugada e intuitiva como, por exemplo, a acupuntura, massagem com óleos essenciais, auriculoterapia, cristais radiónicos, limpeza energética consciente, hipnoterapia, coaching e defumação shamânica.
É uma consulta muito poderosa e é indicada para toda a gente, se bem que nem toda a gente estará preparada para ela (sorrisos…). É uma consulta mais indicada para resolver questões do passado como trauma, bloqueio emocional, e outros problemas do foro psicológico e espiritual. 

“Eu sou assim e simplesmente não consigo mudar”; “Enquanto estiver com esta pessoa não consigo mudar”; “Enquanto tiver este emprego, este meio e estes níveis de stress, não consigo mudar” – são coisas que eu oiço muitas vezes em contexto de consulta. O que achas desta ideia de “sou o que sou e não há nada a fazer” e qual é a tua opinião sobre adiar o bem-estar devido a relacionamentos e circunstâncias de vida que nos limitam?

R: É uma questão muito comum, infelizmente. Costumo dizer que “Todas as desculpas são verdadeiras e reais até ao momento em que decidimos arranjar soluções para os nossos problemas”. Existe uma espécie de ditado zen que é mais ou menos o seguinte: “O Homem que diz que não consegue, está certo. O homem que diz que consegue, também está.” A realidade é que um ambiente familiar destrutivo, uma relação tóxica, um emprego stressante ou um salário baixo são sempre razões válidas para nos sentirmos “presos” ou incapazes de avançar para uma transformação poderosa na nossa vida. Compreendo todas essas razões. No entanto, por experiência própria, e por aquilo que vejo quase todos os dias, é nas pequenas decisões assertivas que fazemos todos os dias, que vamos sustentando a capacidade de tomar as grandes decisões. Então, quando somos capazes de ser assertivos e decisivos - ajustando o barómetro e a bússola das nossas vidas na direção dos nossos sonhos ou de um estilo de vida mais gratificante -, é quando as grandes transformações acontecem, é aí que a vida nos surpreende. É nesses momentos que percebemos de forma evidente que vivíamos há demasiado tempo num ambiente muito abaixo daquilo que merecíamos como, por exemplo, numa relação tóxica. Quanto a adiar o nosso bem-estar por causa de um relacionamento, acho que é a receita perfeita para o falhanço total. Eu próprio já o fiz e compreendo que em alguma fase da vida todos já o teremos feito de alguma maneira. Não quero dizer com isto que as relações não se possam recuperar de fases mais complicadas. No entanto, adiar projetos e sonhos em prol de um ideal de relacionamento que já não existe, só porque não temos coragem de assumir e resolver a nossa vida, é muito irresponsável da nossa parte. Tanto para comigo como para com a minha parceira, parece-me demasiado irresponsável adiarmos a nossa vida e os nossos projetos quando já não se vive em sintonia. Percebes?
É evidente que cada pessoa no casal terá de aprender a ceder quando necessário, adaptar-se à vida conjunta e tudo o resto que uma relação séria implica, mas parece-me que esse fluxo deve ser completamente natural e não dependente da anulação de alguma das partes. As relações são de facto o pilar mais importante da nossa vida, tanto a nível familiar como romântico, social e até profissional. São as relações que nos impelem a crescer, transcender e a amadurecer. É por isso mesmo que é de vital importância compreendermos quando um relacionamento, seja de que natureza for, nos está a ajudar a crescer ou simplesmente nos puxa numa espiral descendente sem fim à vista. Aí é preciso tomarmos decisões. Quanto ao “sou o que sou e não há nada a fazer”, sugiro a leitura e estudo do trabalho do Dr. Joe Dispenza. Se existe alguém que faz a ponte entre a mente humana, ciência e espiritualidade para a transformação e o crescimento pessoal é ele. Aconselho vivamente.   


A dor é real e faz parte da vida. O sofrimento é opcional. Concordas? Qual é a tua visão sobre o sofrimento humano? Porque é que ele existe?

R: Concordo plenamente. Costumo usar essa afirmação quando dou aulas ou falo para grupos. A razão do sofrimento, ou o seu intuito, é fazer-nos crescer. A natureza, a existência, Deus – ou como lhe queiras chamar -, deseja experimentar-se e viver-se através de nós. Há uma vontade intrínseca no ser humano de aprender mais, crescer, de se expandir, que é alimentada por esta força suprema que nos move interiormente. Então a dor é uma espécie de pequeno empurrão por parte da Existência quando deseja que nos movamos, continuando sempre a crescer nesta jornada infinita. O sofrimento é quando nós resistimos à dor – a esse impulso da Natureza que Tudo É – e ficamos presos num processo psico-emocional em que relembramos continuamente a razão da nossa dor, causando por consequência sofrimento. A dor poderá então ser considerada uma reação imediata e natural à mudança, ao crescimento e à transformação que a Natureza espera de nós a cada momento. O sofrimento é quando nos agarramos a essa dor e a prolongamos no tempo como parte de nós mesmos, como se a dor ou trauma de um momento específico ficasse agarrado a nós e o revivêssemos constantemente, justificando-o e reforçando-o, pois então. É isso que acontece na esmagadora maioria dos casos de depressão: a pessoa sofre uma dor muito grande, uma separação muito difícil, um trauma violento, e nunca mais o supera completamente, ficando todo o seu sistema nervoso, endócrino, etc, preso a um acontecimento passado. Por vezes, esse momento aconteceu há 20 ou 30 anos e a pessoa continua a revivê-lo diariamente com a mesma intensidade interior como no dia em que se passou. É compreensível que com o passar do tempo, o nosso sistema nervoso vá memorizando a nível neuronal essa resposta emocional, de tal forma que a pessoa, a partir de certo momento, não se consiga libertar dessa reação, dessa memória, dessas emoções fortes e negativas. O corpo vicia-se nos químicos libertados pela depressão, pelo medo, raiva e frustração. E nesse momento, a pessoa deixa de ter poder de decisão sobre essas memórias e emoções… até ao momento em que decide mudar e transformar a sua vida, até ao momento em que decide assumir responsabilidade pela sua experiência de vida. 

E quando o prazer e a alegria de viver se perdem? Qual seria a tua recomendação para alguém que está nesta situação e não encontra a saída dessa espiral negativa?

R: Fazer voluntariado em associações que lidem com pessoas sem-abrigo, alcoólicos, vítimas de violência doméstica, toxicodependentes e casos bastante graves. Normalmente este choque ajuda-nos a compreender que estamos muito melhor do que pensamos e dá-nos uma sensação de contribuição. Na noite de Natal, por exemplo, em vez de ficarmos no conforto de nossas casas – a imaginar o quão miseráveis e deprimidos somos,  juntamo-nos a associações que estejam na rua a dar refeições a sem-abrigos. É uma forma maravilhosa de compreendermos que temos uma casa, que pode estar mais ou menos vazia, mas que a temos. É uma forma maravilhosa de virarmos o foco do nosso ego para ajudar alguém, contribuindo e servindo o próximo. Aconselho também a prática de atividade física intensa e de choque, que tirem a pessoa do seu estado apático e letárgico, obviamente com aconselhamento profissional da área. Uma pessoa que entre numa espiral negativa de letargia em que perde efetivamente a alegria de viver e o prazer pelas coisas simples da vida, precisa de um estímulo de choque, orientado por alguém que a possa ajudar na jornada.Nestes casos, a acupuntura pode ser bastante efetiva, acompanhada da fitoterapia ou suplementação vitamínica e mineral. No entanto, as terapias de choque são as melhores, sem dúvida. Como é a minha área de especialização, aconselho a pessoa a sentar-se, fechar os olhos e focar a sua atenção no coração, no centro do peito. Chama-se a isto meditar sobre o Coração. Aconselho o paciente a ficar sentado durante 10 a 20 minutos por dia, simplesmente a relaxar no coração, a sentir a respiração. Garanto que depois das primeiras sensações de tristeza e desânimo surgirão emoções profundas de paz, de compaixão, de gratidão, expansão e um grande regozijo por estar simplesmente a respirar e por se sentir vivo.


Além de tudo o resto, és professor de Yoga. A minha definição de Yoga resume-se a algo que vai muito além da flexibilidade física. Para mim, Yoga é uma flexibilidade mental e um fluir com a vida, tal como ela é aqui e agora. Qual é a tua definição?

R: O Yoga é uma filosofia prática. É uma arte milenar que nasceu na Índia, cujo objetivo é o desenvolvimento, harmonização e unificação do Ser. A palavra Yoga deriva do Sânscrito e tem a sua raiz em Yuj, que significa unir, atar, juntar. Juntar o físico com o mental, levando à união integral do ser humano. O Yoga é composto por práticas corporais, respiratórias, relaxamento, concentração, auto-conhecimento ou auto-estudo, meditação e observações éticas e morais que estabelecem uma harmonia tanto interna quanto externa do indivíduo para que a experiência de Unidade permita o estado de plena compreensão da nossa condição humana e consequente realização de um estado profundo de felicidade. O objetivo final da prática é reintegrar o indivíduo como um todo para que a experiência e a realização dessa Unidade seja possível. A meta é Moksha, um estado de liberdade e descondicionamento do homem, que tem como consequência natural o Samadhi, um estado amplificado de consciência e felicidade.

 

Cada vez mais, existe a noção que Yoga é uma forma de viver e de olhar para o mundo. De que forma o Yoga mudou a tua vida e que benefícios pode ter para pessoas de faixas etárias diferentes?

R: O Yoga salvou a minha vida. Costumo dizer isto e não estou a exagerar. O Yoga foi a primeira disciplina que me ajudou a ter algum domínio sobre os meus estados psicoemocionais e, por consequência, a acalmar todo o tipo de emoções na faixa da ansiedade, frustração, raiva, tristeza, depressão, etc. O Yoga foi a primeira disciplina que me mostrou que havia um caminho, ou uma prática, acessível a todos os seres humanos e que nos pode ajudar a viver uma vida com mais harmonia, equilíbrio, paz e felicidade. É sem dúvida a prática mais completa e complexa que conheço e também a mais ampla porque ajuda o ser humano a trabalhar todas as áreas da sua vida. Aconselho toda a gente a experimentar uma aula de yoga para verem se gostam. Grande parte das pessoas que chegam à primeira aula comigo dizem coisas do género: “Eu não consigo estar parada”, “Eu não tenho flexibilidade”, “A minha cabeça não para”, etc, etc, etc. E eu acho isso maravilhoso porque é para isso mesmo que o yoga existe. É evidente que uma pessoa com grandes dificuldades físicas ou de movimentação, deverá procurar uma prática mais meditativa e simples, mas que a possa ajudar também. E o Yoga tem práticas para todo o tipo de pessoas. A questão, uma vez mais, é se as pessoas têm coragem e disciplina suficientes para levar uma prática avante e a longo prazo.


Hoje em dia muitas pessoas queixam-se de uma mente excessivamente estimulada, acelerada e sobrecarregada. Qual é o teu conselho para todos aqueles que se interessam por meditação, mas têm imensa dificuldade em implementar essa prática? Existe algum truque? Por onde começar? 

R: O meu truque é praticar (risos). Não há soluções milagrosas. A Existência precisa que nós façamos a nossa parte para que ela possa fazer a Sua. Compreendes? As mentes irrequietas (como a minha, por exemplo!) são as melhores para meditar porque são aquelas que notam grandes resultados rapidamente. O que eu aconselho às “mentes irrequietas” é que procurem uma meditação guiada para começarem a experimentar. Aconselho vivamente as meditações do Dr. Joe Dispenza. Para terminar, gostaria de revelar um segredo. Porque, sim. Existe um segredo para começarmos a meditar… Esse segredo chama-se “arranjar uma hora por dia para nós mesmos!” (risos). E “se não tens uma hora por dia, então não tens vida”, como diz o meu querido Tony Robbins. 

Já falamos do corpo, da mente e das emoções. E a espiritualidade? O que significa para ti e consideras-te uma pessoa espiritual?

R: Quando se fala em “espiritualidade” parece que estamos a falar de algo separado do nosso quotidiano, do nosso dia-a-dia, do nosso coração. Eu vivo a minha espiritualidade a cada dia, a cada respiração e a cada momento. Não gosto de separar as coisas porque isso gera uma tendência a sermos muito “espirituais” quando estamos a meditar, ou quando acendemos uma velinha, ou quando estamos em oração, para logo depois nos tornarmos muito “mundanos” quando voltamos para a vida “normal”. Então eu decidi há vários anos viver espiritualmente todos os dias, todos os momentos, sem que para isso tivesse de estar a meditar ou a queimar incenso. Eu sou espiritual enquanto estou a responder a esta entrevista, quando cozinho, quando conduzo, quando leio, quando dou consultas, quando estou a correr, quando faço yoga, quando falo com a minha mãe, quando discuto com alguém, quando digo palavrões…Eu sou espiritual porque não há verdadeira separação entre “espiritualidade” e “quotidiano”, pelo menos, para mim. Agora, eu compreendi a tua pergunta. É evidente que a espiritualidade significa algo. A espiritualidade é um código de conduta que se deve reger por um comportamento que a demonstre a cada momento. O meu resume-se a amar o próximo, respeitar as diferenças e a individualidade de cada pessoa, a dizer “bom dia” e “boa noite”, a ser atencioso com toda a gente, a ajudar as pessoas sempre que o puder fazer. No entanto, se me perguntas como o faço, poderei dizer que me ajuda imenso quando invisto duas ou três horas do meu dia a meditar, por exemplo. Ajuda-me porque quando entro em meditação - quando as ondas do meu cérebro passam de Beta Alta (stress, ansiedade, tensão, etc) para Alfa, Theta, Delta ou Gama, o meu coração e o meu cérebro entram em coerência e é possível sentir a Unidade Absoluta, o Amor, a Paz e os estados de expansão de Consciência incrivelmente extáticos que os monges budistas, os ioguis e os místicos falaram ao longo dos tempos. Então o segredo é esse: praticar! 

Para ti, quais são as coisas mais importantes na vida, que frequentemente esquecemos? 

R: As coisas mais importantes na vida são o amor, a liberdade, a saúde, a criatividade, a literatura, a música, o cinema, a transformação/crescimento pessoal e a celebração do facto de estarmos vivos. Frequentemente vejo que nos esquecemos de celebrar o simples facto de estarmos vivos e de nos amarmos incondicionalmente. Esta é uma condição básica para sermos mais felizes, mesmo em tempos difíceis. Simplesmente agradecer a bênção por estarmos vivos, termos um corpo, respirarmos, termos comida na mesa, termos uma família e tantas possibilidades à nossa espera no horizonte.

O que dirias a alguém que precisa muito de mudar a sua vida por completo, mas (quer seja devido a hábitos de vida, tipo de emprego ou um relacionamento), está de tal forma bloqueado e preso na realidade atual, que nem sabe por onde começar?

R: Isso é uma questão muito comum, em consultório. As pessoas não me procuram só pela acupuntura, mas também pelo coaching e aconselhamento. Normalmente preciso de ter a pessoa à minha frente para falar com ela e tentar compreender o que realmente a impede de seguir com a sua vida. Quando compreendo a raiz do problema, oriento as perguntas no sentido de levar a pessoa a compreender por si quais os pensamentos limitativos que ainda sustenta, os padrões que a prendem ao passado e os medos que a impedem de seguir em frente e tomar as decisões que tem de tomar. É um processo em que costumo sugerir um trabalho de casa, para que na sessão seguinte possamos ir ainda mais fundo no processo. Não é simples, mas conjugado com a hipnoterapia e com técnicas de meditação e libertação emocional, normalmente vemos evolução.

Como é que as pessoas podem contactar-te?

R: Principalmente através do Facebook, através dos seguintes links:
Email:
andredeoliveiramtc@gmail.com
Contacto telef: 967695679

“Se há algo em que confio é na capacidade do Homem se transformar e transcender. Não quero com isto dizer que todos o irão fazer. De todo. Muitos de nós - muitas partes de nós -, assinaram o atestado de óbito antecipado na ânsia de aliviarem a responsabilidade de si mesmos. Uma parte de nós escolheu resumir-se ao julgamento do "outro" e à sua própria vitimização, esquecendo o poder criativo que reside dentro de Si. Somos todos formas individualizadas da Consciência que tudo é. O resto é ilusão. O resto são personagens dentro de um filme, dentro de um filme, que está dentro de um outro filme sem fim” 
– André de Oliveira


Resta saber então, que filme é que cada um de nós escolhe viver?