06 dezembro, 2018

Entrevista com a Adriana Torres - Yoga, Alimentação Natural e Gravidez Vegana


Adriana Torres 27 anos,  Professora de Yoga, apaixonada pela Natureza e quase mamã. A Adriana através do meu olhar é o equilíbrio perfeito entre mente, coração e intuição. Exigente, orientada para a evolução pessoal e racional, mas também intuitiva e muito bem informada sobre o grande poder do corpo e mente humanos. Tudo na dose certa! Vamos conhecê-la! 


Yoga e alimentação de origem vegetal…Muitos dizem que uma coisa não implica a outra. Enquanto professora de Yoga, qual é a tua opinião – acreditas que a alimentação de origem vegetal e a prática de Yoga vão de mãos dadas?

Acredito que inevitavelmente uma coisa acaba por levar à outra. Não encaro o Yoga apenas como uma prática física – vai muito mais além do tapete. O que nos permitimos aprender com o Yoga é transportado para todos os aspectos da nossa vida, seja a nível mental, emocional, físico ou alimentar. Acredito que tudo está relacionado. Se me respeito, se respeito os outros seres, como não poderia ter uma alimentação de origem vegetal?

Foi a prática de Yoga que te deixou interessada no veganismo ou vice-versa? O que veio primeiro na tua vida?

Primeiro veio o vegetarianismo e foi tudo muito gradual. Só depois me tornei vegana. O veganismo coincidiu com o início da minha prática de Yoga, mas não de forma consciente. Foi tudo muito natural e intuitivo.

Conta-nos mais sobre o teu percurso na alimentação vegana…Como a descobriste e o que te levou a fazer essa mudança?

Desde que me lembro que nunca me senti bem a comer alimentos de origem animal. Na altura não questionava, claro. Foi a partir de 2009 que comecei a procurar informação sobre o que nunca me havia sido explicado: o que estava no meu prato. A minha principal motivação para deixar de comer carne foi toda a indústria e exploração a que os animais estão sujeitos para que se tornem num “alimento”. Lembro-me que fui reduzindo o consumo de carne, deixando ficar o peixe. Depois acabei por eliminar o peixe, deixando ficar os derivados. Só mais tarde eliminei os derivados. Rapidamente percebi que para além de ter deixado de contribuir para esta indústria, melhorei imenso a minha saúde e a motivação passou, também, a ser por mim mesma e mantém-se assim até hoje. 


Há quanto tempo és vegana? 

Primeiro veio o vegetarianismo, de forma gradual, a partir de 2009. Sou vegana desde 2014, altura em que encontrei o Vitaliza.

Qual foi o teu maior desafio durante a fase de mudança e transição, e como o ultrapassaste?

Acho que o desafio/preocupação maior é sempre como vamos fazer as “substituições”. Talvez porque ainda estamos no início e não temos muita experiência nem informação. Ou, na verdade, a informação é muita, tornando-se até demasiada. Lembro-me, por exemplo, de experimentar o tofu e seitan e não gostar nada. Só mais tarde percebi que também não são fundamentais, até pelo contrário. Ser vegetariano não significa nada ser saudável. E esta questão de aprender o que é saudável ou não para mim também surgiu, mais tarde, com o veganismo.
Na altura ainda vivia com os meus pais e tenho que referir que sou realmente abençoada por sempre terem apoiado as minhas escolhas e nunca terem sido um entrave à minha mudança.
Ao pensar na questão da transição, há algo que ficou muito marcado: como o nosso paladar muda. Nunca fui daquelas pessoas muito esquisitas com fruta e legumes, mas havia coisas que não conseguia comer, ou misturas que achava impensáveis fazer. Hoje em dia, olhando para trás, percebo que realmente o paladar se pode trabalhar e é, de facto, uma liberdade enorme.
O ultrapassar os desafios que possam surgir, acho que vai sempre depender da nossa motivação e comprometimento.

Quais são as principais melhorias que sentiste ao nível da saúde ao transitar para o veganismo?

Inicialmente com o vegetarianismo sentia-me apenas mais leve. As grandes melhorias vieram mesmo com o eliminar de todos os derivados de origem animal, portanto, quando me tornei vegana.
Era daquelas pessoas que sofria imenso com rinite alérgica e sinusite. Desapareceram quando eliminei a 100% os derivados do leite (leite já não consumia), quando comecei a cozinhar de forma simples e limpa (sem gorduras) e quando comecei a fazer Neti Pot (irrigação nasal).
Tinha também desequilíbrios hormonais. Quando transitei para o veganismo, decidi também deixar de tomar a pílula e nesta altura lidei com muita limpeza (o sumo de laranja com maca foi o meu maior aliado). Foi aqui que conheci a Zlati e fiz um dos pacotes Vitaliza. E o que isto transformou a minha vida!
Comecei a introduzir os batidos e sumos pela manhã, a aumentar em geral a ingestão de fruta e legumes e a eliminar os processados. Pouco tempo depois já conseguia passar a maior parte do dia a comer alimentos crus, nutricionalmente ricos. Passei a fazer uma refeição por dia cozinhada, normalmente ao jantar. Como pretendia limpar mais e mais, e estava com disponibilidade e abertura para o fazer, comecei a praticar o jejum (24H) ou o jejum intermitente. Nesta sequência, fui desafiada a fazer uma semana de comida crua. Essa semana estendeu-se a 10 dias e foi a maior limpeza do meu corpo. Para além da limpeza e cura física foi também uma limpeza e cura mental e emocional – daí dizer que tudo está sempre relacionado. 

Quando as outras pessoas ficam a saber como te alimentas, qual é a pergunta que te fazem com mais frequência e como costumas responder?

A pergunta mais frequente é sem dúvida: mas então o que comes? Respondo muito simplesmente que como tudo o resto (SÓ não como a carne e o peixe). Normalmente não me alargo muito mais, a não ser que a pessoa esteja realmente interessada em saber mais.


Qual é o alimento que te dá mais energia?

Não consigo definir um só alimento. Mas diria que a fruta!

Que impacto teve a manutenção de um estilo de vida vegano na tua prática de Yoga? Notaste alguma mudança no teu estado e desempenho físico? 

O Yoga veio ao meu encontro quando me tornei vegana. A prática é bastante diferente agora do que era no início, claro. Também por outros factores, mas sinto que a alimentação vegana e, principalmente, limpa, foi um passo verdadeiramente importante para me tornar uma pessoa com mais vitalidade, flexibilidade e motivação pela prática, entregando-me e confiando muito mais no processo.

E agora sim, vamos falar do mais óbvio: a tua gravidez! Estando na reta final da tua gravidez, que resumo e apreciação fazes desses últimos meses? 

Tem sido uma jornada muito interessante. Olhando para trás, passou tudo muito rápido e muitas mudanças aconteceram. Mais uma vez, tive a confirmação de que o nosso corpo é realmente muito sábio e que é um autêntico privilégio habitá-lo. É algo simplesmente incrível! 


Qual tem sido a opinião dos médicos que te acompanharam sobre o tipo de alimentação e estilo de vida que tens? Notaste algum tipo de preocupação?

Honestamente, até agora nunca fui questionada sobre o meu estilo de vida – a alimentação é um assunto que lhes passou ao lado. O meu médico de família sabe que sou vegana e nunca levantou qualquer problema. Acredito muito que passa pela forma como encaramos e também como transmitimos as coisas. Fui respeitada quando o informei que não ia fazer, por exemplo, o teste da glicose por não consumir açúcar. Fiz a monitorização em casa com uma máquina de diabetes e mostrei-lhe os resultados das medições ao longo de uma semana.

Mais importante do que as opiniões alheias, como é que tu te tens sentido? Tiveste uma gravidez saudável?

Sim, considero que tive uma gravidez saudável. O primeiro trimestre foi o mais complicado de gerir. Tive os típicos enjoos matinais e não conseguia comer verdes. Já não consumia pão com muita frequência mas confesso que com a gravidez voltei a comer. Depois do 3º mês tudo isto passou e voltei a comer alimentos crus (sempre muito bem lavados), a sentir-me cheia de energia e a fazer a minha vida normalmente. Neste último trimestre, e principalmente agora na recta final (estou a chegar às 37 semanas), o corpo pede repouso. É um processo único que devemos respeitar!

Como lidaste com os típicos desejos de grávida e alguma vez chegaste a incluir produtos de origem animal na tua dieta, quer seja por vontade ou por necessidade? 

Nunca incluí produtos de origem animal (nem derivados). Era incapaz de o fazer! Em relação aos típicos desejos de grávida, acho que me passaram ao lado. Tive só um episódio em que me apetecia comer donuts – daqueles típicos. Lembro-me de me obrigar a ir ao supermercado, ler os ingredientes e obviamente no momento me passar a vontade. Foi muito fácil desligar daquilo. Não sendo para mim alimento, não teria coragem de comer. O “mal que faz” sobrepõe-se ao “bem que sabe”.

Usaste vitaminas pré-natais ou algum tipo de suplementos alimentares? 

Sim, a única coisa que fiz foi usar vitaminas pré-natais veganas. O médico recomendou o típico ácido fólico, ferro e iodo. Aproveitei e comprei estas vitaminas que para além disso também contêm a vitamina B12 e Vitamina D que eu sabia, pelas últimas análises (antes da gravidez), que precisava de suplementar. Para além disso, continuei a usar os meus aliados: a spirulina, proteína de cânhamo, erva trigo, levedura nutricional.

Como tem sido um dia típico na tua alimentação estando grávida? Tem sido diferente em comparação com o que comias antes de engravidar?

O único alimento que voltei a introduzir que já não comia com tanta frequência foi o pão. Apesar de nutricionalmente não ser rico, sinto que preciso de alimentos mais densos. De resto, tudo o que me apetece são refeições muito simples, sem grandes combinações ou misturas.
Estava habituada ao jejum intermitente. A minha primeira refeição do dia nunca era antes das 11H. Isso mudou completamente, claro. Agora necessito de comer mal acordo. Começo sempre pela fruta. Agora com o Inverno faço duas refeições cozinhadas – o almoço e o jantar, mas no Verão consumia muitos mais crus. Bebo algum leite vegetal (de arroz e côco) mas o que nunca mudou foi o consumo da fruta em grandes quantidades e livremente, seja inteira seja em batidos. Quando saio, ando sempre munida de fruta comigo ou então de barritas (daquelas muito simples).



O que dirias neste momento às mulheres que pensam engravidar ou que se encontram grávidas, mas só não adotam uma alimentação de origem vegetal por medo que “algo falte ao bebé”?

Digo que confiem! O nosso corpo e o do nosso bebé só vão agradecer. É importante ter noção de que uma alimentação simples e limpa vai ser fundamental e aí não faltará nada – principalmente ao bébe! Não nos queremos “entupir” de processados numa fase em que não podemos depois fazer grandes limpezas do organismo.  
O que acho mais interessante é que quando confiamos no nosso corpo, quando o respeitamos e sabemos “ouvir”, ele dá-nos todas as indicações do que realmente precisa. Confiar e respeitar!

Nas tuas redes sociais dá para ver que foste bastante ativa e continuaste a dar aulas de Yoga praticamente até ao fim da gravidez. Como foi essa experiência? 

Verdade. Estive a dar aulas até às 36 semanas. Não imaginaria de outra forma. O meu corpo pede isto! A partir de uma certa fase, foi tudo muito diferente. Principalmente agora mais no fim, não me é possível fazer tudo aquilo que estava habituada a fazer. Mas é também bonito por isso… Foi um processo de aceitar as “limitações”. Na minha prática, foco-me mais em exercícios de respiração e de conexão com a bebé. No entanto, também pelos benefícios que traz para o parto, mantemos alguns asanas (posturas) e sequências.

A tua vida está prestes a mudar para sempre. Como imaginas a vida de mãe em breve e quais são os valores que gostavas de transmitir a esse bebé?

Imagino que vem aí mais um processo de muita descoberta, aprendizagem, crescimento e entrega. De muita conexão e amor. E também de desgaste e cansaço.
Enquanto família vegana, queremos transmitir estes valores de respeito por todos. Por nós próprios, pelos outros, pelo Planeta. Acima de tudo, gostava que ela soubesse que está mesmo nas nossas mãos contribuir para um Universo melhor e que se quiser, o pode fazer!

Qual é o conselho que darias a alguém que pretende sentir-se mais saudável, forte, emocionalmente equilibrado e em paz? Na tua opinião, o que é que mais nos ajuda a ter um corpo, mente e emoções em equilíbrio? 

Que se não tem uma alimentação de origem vegetal, que comece por aí – e só isto já é um enorme passo! Acredito que tudo o resto acaba por surgir. No entanto, é preciso questionar, estar disponível para aprender e para olhar para dentro. Este é outro passo que considero importante para quem procura equilíbrio.
Para além da alimentação, e como já escrevi, também passei por processos de limpeza mental e emocional. Processos de descoberta interior, de perdas, de desconstrução de padrões e comportamentos, de aceitação.
Claro que considero que o Yoga me trouxe ferramentas incríveis, que ajudaram e continuam a ajudar imenso em todo o processo. Se tivesse que recomendar alguma coisa para além da alimentação, recomendaria o aprender a respirar, a meditação e a gratidão e, para quem se identificar, o Yoga, claro!
Recuando ao início desta entrevista, reparei que ao colocar as minhas fotos mais antigas pensei “mas fisicamente não se nota grande mudança em mim”. Comecei a juntar as fotos e reparei numa grande mudança no meu olhar e no meu sorriso! E por isto tudo, sou muito grata!! 



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