Marisa Vilela – 40 anos, cabeleireira. A Marisa vista através do meu
olhar é uma menina mulher sem idade, dotada de um foco e persistência
admiráveis. Forte como o aço por fora, mas algodão doce por dentro. Ela é
o todo – uma verdadeira força da natureza! Aqui está um resumo do caminho que
percorreu na alimentação crua e vegana:
1- Marisa, quando e em que circunstâncias
descobriste a alimentação (crudi)vegana?
- No verão de 2014 regressei das férias
com uma “alergia” nas mãos, e em conversa com um amigo,o Marco Oliveira, tomei
conhecimento do site Vida em estado cru onde se defendia a cura pela
alimentação crua.
2- O que te fez dar esse passo tão importante
de mudar de hábitos alimentares? Na altura em que mudaste sabias que seria uma
mudança permanente ou achavas que estavas a fazer uma “dieta” temporária?
- Inicialmente foi essa ”alergia” que me
fez mudar de alimentação, visto que a medicina convencional não me dava
soluções. Eu andei um ano com as mãos cheias de bolhas, que para além de uma
comichão terrível, as bolhas rebentavam e ficavam sem pele, uma lástima! Mas o
meu histórico de problemas de saúde não termina aqui. Eu sofri de bronquite 12 anos;
estive 5 anos com depressão; tinha dores de cabeça quase diárias; crises de
herpes que me lembro de ter desde criança e que foram aparecendo em sítios cada
vez mais preocupantes; sofria de insónias e ansiedade; tinha muitas dores nas
articulações; tinha vitiligo há 16 anos, por isso nada tinha a perder. Na altura
em que mudei pensei que seria uma “dieta” temporária e que assim que melhorasse
provavelmente voltaria à alimentação tradicional. Fui fazendo um mês, depois
outro e ao fim de três meses as mãos estavam totalmente curadas, larguei a
medicação da depressão; as dores de cabeça desapareceram; comecei a dormir bem;
a ansiedade tinha desaparecido e tinha a cada dia mais força e vontade de
viver!!! Agora eu costumo dizer que é um amor para a vida toda!!!
3. Que
impacto teve a mudança na tua saúde? Quais foram os efeitos que sentiste?
- O impacto foi enorme, pois para além de
ver algumas doenças curadas, eu comecei a ver que o meu psicológico estava
diferente e eu nunca tinha pensado que a comida podia interferir com essa parte
tão importante. Senti a cada dia a auto-estima e o amor póprio a
aumentar. No fundo eu senti que estava a renascer!
4. Certamente sabes que a tua forma física é
uma grande inspiração para muitas mulheres e homens que te acompanham. És a
prova de que é possível ser vegano e ter força, definição e boa massa muscular.
Foi difícil conciliar a alimentação vegana com a paixão pelo exercício físico?
- Na transição para a alimentação vegana
perdi cerca de 8kg, o que para quem já era magra se notou bastante, e isso fez
com que no ginásio tivesse de diminuir muito á carga pois não tinha força para
pegar no mesmo peso que pegava anteriormente. Tive de recomeçar, mas depressa
notei os abdominais a ficar super definidos e isso deu-me muita motivação para
continuar a treinar. Hoje em dia ainda não pego na mesma carga, mas isso deixou
de ser importante pois até nisso eu mudei e deixei de ser obsecada, gosto de
mim como sou! A alimentação vegan não me dificultou em nada, pois continuo a
ter força e energia para treinar.
5. Desde que começaste a treinar mais a sério,
quanto tempo demoraste até alcançar a fantástica forma física em que te
encontras agora?
- Eu faço exercício físico desde os 15
anos. Cheguei a ter em casa aparelhos de musculação, mas há 5 anos
matriculei-me no ginásio e comecei a treinar mais a sério. A mudança na
alimentação deu-se em junho de 2015, bastaram-me 2 meses para ficar com o
famoso six-pack e isso deixou-me tão feliz! Nessa altura só não gostava de me
ver com as pernas tão magras, visto que tinha emagrecido muito, mas aos poucos
estou a recuperar o peso e a massa muscular.
6. Para além da alimentação de origem
vegetal, usas suplementos? Se sim, quais?
- Não uso suplementos, apenas
superalimentos/algas que são concentrados em proteína como a spirulina, clorela.
7. Em que consiste um dia típico na tua
alimentação?
- Como pratico o Jejum Intermitente de
17h, a minha primeira refeição é às 13h. Começo com 1 litro de sumo de vegetais
e limão, e fruta inteira. Às 15h já sinto alguma fome, por isso bebo 1 litro de
sumo de laranja e limão. Ao lanche, por volta das 17h, bebo 1 litro de batido
de fruta, vegetais de folha verde (espinafres, salsa, hortelã e cidreira
fresca), spirulina, clorela, urtigas, aloe vera e maca. A minha última refeição
é o jantar, por volta das 19.30h que é onde como algo cozinhado de origem
vegetal e sem gorduras (arroz, batatas, batata doce, quinoa, lentilhas, ervilhas,
favas, trigo sarraceno, brócolos, couve flor e muito raramente feijão ou grão
de bico), sempre acompanhado de uma saladona e 1 litro de sumo de cenoura que
bebo no ínicio. Não esquecendo a importância da água, bebo 3 litros por dia. Ao
acordar bebo 500ml de chá de pau d´arco e ao deitar bebo 500ml de chá de
alcaçuz (não alteram a mecânica do Jejum Intermitente).
8. Notas diferença entre a alimentação que
tinhas na tua fase de transição para o veganismo e agora vários anos
depois de ter concluído essa transição? O que se mantém igual e o que mudou?
- Sim, muita!!! Na altura da transição
lembro-me de comer 23 peças de fruta por dia, fora o almoço e jantar em que
comia cozinhados e saladas, pois sentia muita fome!! Hoje em dia já não sinto
essa fome/vontade de comer, pois o organismo aproveita melhor os nutrientes.
Acredito que cada ano é diferente, e o corpo vai ditando aquilo que mais lhe
faz falta, é só estar atenta.
9. O que dirias a alguém que deseja mudar a sua
forma física e hábitos alimentares, mas está perdido e até desmotivado. Por
onde começar?
- Eu recebo inúmeras mensagens a pedir
ajuda, tanto para emagrecer como para fazer a transição para a alimentação
vegana, e o que eu aconselho sempre é que aos poucos larguem os produtos de
origem animal, produtos processados e refinados e conto a minha experiência
relatando um dia normal na minha alimentação. Eu adoro postar nas redes sociais
(facebook e instagram) fotos das minhas receitas e digo sempre a quem me pede
ajuda para irem lá espreitar, para ficarem motivados, e pelas mensagens que
recebo está a resultar! Fico de coração cheio pois o intuito das minhas
postagens é mesmo motivar quem perdeu a força e vontade de seguir em frente! Eu
defendo que a alimentação é a base e o exercício o complemento!
10. “É normal, já não vou para nova!” é uma
frase que muitas mulheres que eu conheço usam para justificar o peso a mais, as
gorduras a mais e um progressivo desleixo com a aparência física que se
verifica especialmente depois de casar e ter filhos. O que pensas sobe isto?
- Eu acho que tudo tem a ver com a relação “comida
tóxica” = “mente enfraquecida” ou seja, na minha opinião, as pessoas já estão
de tal forma anestesiadas pelos vícios e medicamentos, que já perderam a
vontade de tudo. Sentem-se doentes, desmotivadas, depressivas, ansiosas e vivem
em modo piloto automático, já deixaram de ter força de viver, andam aqui por
ver andar os outros! As pessoas acomodam-se, acham que o estar doentes, com
peso a mais e deprimidas é o normal, é da idade!! Eu já estive no fundo, com a
mente tão mas tão apagada, mas nunca me acomodei. Eu pesquisei, eu lutei, eu
tinha a certeza que vim a este mundo para ser feliz e sabia que ao lutar iria
ganhar cada vez mais força para o conseguir e fico triste por ver as pessoas
desistir tão facilmente da felicidade. Mas eu já aprendi que cada um tem o seu
caminho a percorrer.
11. O amor próprio é um dos temas frequente
nas tuas partilhas nas redes sociais. O que significa para ti ter amor
próprio e como o cultivas?
- Eu descobri o amor póprio há muito pouco
tempo…. Vivi muitos anos à sombra do ego, mas finalmente descobri que ter amor
próprio é colocar-me sempre acima de tudo, gostar de mim como sou, jamais me
autocriticar, saber controlar os pensamentos para não sofrer com eles.
Felizmente comecei a ter sabedoria suficiente para dizer não ao que me
incomoda, ao que me faz mal! Aprendi que elogiar-me ao espelho é uma terapia
maravilhosa!! A forma que tenho de cultivar o amor póprio é cuidar bem de mim
por dentro e por fora, ou seja, alimentando-me bem, fazendo exercício físico,
descansando bem, meditando, praticando as afirmações positivas, sorrindo e
enviando luz ao universo.
12. Como mãe de uma filha adolescente qual é, na
tua opinião, o nosso papel (de mulheres e mães) na criação de bons hábitos
alimentares e uma imagem corporal positiva nos nossos filhos?
Infelizmente hoje em dia é muito comum
ver adolescentes com peso a mais e isso deixa-me triste mas também revoltada! A
responsabilidade de isso acontecer é dos pais, pois são eles que compram a
comida para casa! A educação alimentar faz-se em casa, dando o exemplo. Eu costumo
dizer que uma das maiores heranças que deixarei à minha filha é a alimentação
que fazemos. A Bruna começou na alimentação vegana há 2 anos e meio, tinha
acabado de fazer 15 anos, e não foi porque a obriguei a fazê-lo, ela mesma
comprovou o resultado que estava a ter em mim, logo o exemplo fui eu! Se és uma
mãe que enche os armários de casa com guloseimas, se preparas refeições cheias
de gorduras, se estás sempre a petiscar comida embalada e processada, o teu
filho fará igual,certo?! Mais tarde estes jovens irão ser obesos, doentes, cheios
de problemas de auto-estima e infelizes, e isso é muito triste! Basta olharmos à
nossa volta para ver tanta gente nova a morrer de cancro, já pararam para
pensar porque será? Eu faço aqui um apelo aos pais: Sejam atentos, sejam responsáveis
e todos serão muito mais saudáveis e felizes!
13. O que te ensinou o teu percurso no veganismo
sobre ti própria e qual foi o impacto que teve na tua vida no geral?
- O ensinamento mais importante que tive
foi que a comida não me controla mais e isso faz de mim uma pessoa livre! O
maior impacto que teve em mim foi passar de uma pessoa stressada, deprimida,
negativa, escura por dentro e sem motivação para viver, para uma pessoa mais
alegre, calma, confiante e com sabedoria interior para aguentar cada obstáculo
que a vida nos propõe, pois eles são meros ensinamentos por que temos de passar
para crescer! Sem dúvida que a maior mudança em mim nem foi a física - foi a
mental e estarei grata por isso eternamente, pois agora sim, estou a VIVER!
Marisa Vilela: https://www.facebook.com/marisa.vilela.90