09 outubro, 2018

Entrevista com a Marisa Vilela - Mente sã em corpo são e o papel da alimentação e exercício físico

Marisa Vilela – 40 anos, cabeleireira. A Marisa vista através do meu olhar é uma menina mulher sem idade, dotada de um foco e persistência admiráveis. Forte como o aço por fora, mas algodão doce por dentro. Ela é o todo – uma verdadeira força da natureza! Aqui está um resumo do caminho que percorreu na alimentação crua e vegana:

1- Marisa, quando e em que circunstâncias descobriste a alimentação (crudi)vegana?
- No verão de 2014 regressei das férias com uma “alergia” nas mãos, e em conversa com um amigo,o Marco Oliveira, tomei conhecimento do site Vida em estado cru onde se defendia a cura pela alimentação crua.
2- O que te fez dar esse passo tão importante de mudar de hábitos alimentares? Na altura em que mudaste sabias que seria uma mudança permanente ou achavas que estavas a fazer uma “dieta” temporária?
- Inicialmente foi essa ”alergia” que me fez mudar de alimentação, visto que a medicina convencional não me dava soluções. Eu andei um ano com as mãos cheias de bolhas, que para além de uma comichão terrível, as bolhas rebentavam e ficavam sem pele, uma lástima! Mas o meu histórico de problemas de saúde não termina aqui. Eu sofri de bronquite 12 anos; estive 5 anos com depressão; tinha dores de cabeça quase diárias; crises de herpes que me lembro de ter desde criança e que foram aparecendo em sítios cada vez mais preocupantes; sofria de insónias e ansiedade; tinha muitas dores nas articulações; tinha vitiligo há 16 anos, por isso nada tinha a perder. Na altura em que mudei pensei que seria uma “dieta” temporária e que assim que melhorasse provavelmente voltaria à alimentação tradicional. Fui fazendo um mês, depois outro e ao fim de três meses as mãos estavam totalmente curadas, larguei a medicação da depressão; as dores de cabeça desapareceram; comecei a dormir bem; a ansiedade tinha desaparecido e tinha a cada dia mais força e vontade de viver!!! Agora eu costumo dizer que é um amor para a vida toda!!!
3. Que impacto teve a mudança na tua saúde? Quais foram os efeitos que sentiste?
- O impacto foi enorme, pois para além de ver algumas doenças curadas, eu comecei a ver que o meu psicológico estava diferente e eu nunca tinha pensado que a comida podia interferir com essa parte tão importante. Senti a cada dia a auto-estima  e o amor póprio a aumentar. No fundo eu senti que estava a renascer!

4. Certamente sabes que a tua forma física é uma grande inspiração para muitas mulheres e homens que te acompanham. És a prova de que é possível ser vegano e ter força, definição e boa massa muscular. Foi difícil conciliar a alimentação vegana com a paixão pelo exercício físico?
- Na transição para a alimentação vegana perdi cerca de 8kg, o que para quem já era magra se notou bastante, e isso fez com que no ginásio tivesse de diminuir muito á carga pois não tinha força para pegar no mesmo peso que pegava anteriormente. Tive de recomeçar, mas depressa notei os abdominais a ficar super definidos e isso deu-me muita motivação para continuar a treinar. Hoje em dia ainda não pego na mesma carga, mas isso deixou de ser importante pois até nisso eu mudei e deixei de ser obsecada, gosto de mim como sou! A alimentação vegan não me dificultou em nada, pois continuo a ter força e energia para treinar.

5. Desde que começaste a treinar mais a sério, quanto tempo demoraste até alcançar a fantástica forma física em que te encontras agora?
- Eu faço exercício físico desde os 15 anos. Cheguei a ter em casa aparelhos de musculação, mas há 5 anos matriculei-me no ginásio e comecei a treinar mais a sério. A mudança na alimentação deu-se em junho de 2015, bastaram-me 2 meses para ficar com o famoso six-pack e isso deixou-me tão feliz! Nessa altura só não gostava de me ver com as pernas tão magras, visto que tinha emagrecido muito, mas aos poucos estou a recuperar o peso e a massa muscular.
6. Para além da alimentação de origem vegetal, usas suplementos? Se sim, quais?
- Não uso suplementos, apenas superalimentos/algas que são concentrados em proteína como a spirulina, clorela.

7. Em que consiste um dia típico na tua alimentação?
- Como pratico o Jejum Intermitente de 17h, a minha primeira refeição é às 13h. Começo com 1 litro de sumo de vegetais e limão, e fruta inteira. Às 15h já sinto alguma fome, por isso bebo 1 litro de sumo de laranja e limão. Ao lanche, por volta das 17h, bebo 1 litro de batido de fruta, vegetais de folha verde (espinafres, salsa, hortelã e cidreira fresca), spirulina, clorela, urtigas, aloe vera e maca. A minha última refeição é o jantar, por volta das 19.30h que é onde como algo cozinhado de origem vegetal e sem gorduras (arroz, batatas, batata doce, quinoa, lentilhas, ervilhas, favas, trigo sarraceno, brócolos, couve flor e muito raramente feijão ou grão de bico), sempre acompanhado de uma saladona e 1 litro de sumo de cenoura que bebo no ínicio. Não esquecendo a importância da água, bebo 3 litros por dia. Ao acordar bebo 500ml de chá de pau d´arco e ao deitar bebo 500ml de chá de alcaçuz (não alteram a mecânica do Jejum Intermitente).
8. Notas diferença entre a alimentação que tinhas na tua fase de transição  para o veganismo e agora vários anos depois de ter concluído essa transição? O que se mantém igual e o que mudou?
- Sim, muita!!! Na altura da transição lembro-me de comer 23 peças de fruta por dia, fora o almoço e jantar em que comia cozinhados e saladas, pois sentia muita fome!! Hoje em dia já não sinto essa fome/vontade de comer, pois o organismo aproveita melhor os nutrientes. Acredito que cada ano é diferente, e o corpo vai ditando aquilo que mais lhe faz falta, é só estar atenta.
9. O que dirias a alguém que deseja mudar a sua forma física e hábitos alimentares, mas está perdido e até desmotivado. Por onde começar?
- Eu recebo inúmeras mensagens a pedir ajuda, tanto para emagrecer como para fazer a transição para a alimentação vegana, e o que eu aconselho sempre é que aos poucos larguem os produtos de origem animal, produtos processados e refinados e conto a minha experiência relatando um dia normal na minha alimentação. Eu adoro postar nas redes sociais (facebook e instagram) fotos das minhas receitas e digo sempre a quem me pede ajuda para irem lá espreitar, para ficarem motivados, e pelas mensagens que recebo está a resultar! Fico de coração cheio pois o intuito das minhas postagens é mesmo motivar quem perdeu a força e vontade de seguir em frente! Eu defendo que a alimentação é a base e o exercício o complemento!
10. “É normal, já não vou para nova!” é uma frase que muitas mulheres que eu conheço usam para justificar o peso a mais, as gorduras a mais e um progressivo desleixo com a aparência física que se verifica especialmente depois de casar e ter filhos. O que pensas sobe isto?
- Eu acho que tudo tem a ver com a relação “comida tóxica” = “mente enfraquecida” ou seja, na minha opinião, as pessoas já estão de tal forma anestesiadas pelos vícios e  medicamentos, que já perderam a vontade de tudo. Sentem-se doentes, desmotivadas, depressivas, ansiosas e vivem em modo piloto automático, já deixaram de ter força de viver, andam aqui por ver andar os outros! As pessoas acomodam-se, acham que o estar doentes, com peso a mais e deprimidas é o normal, é da idade!! Eu já estive no fundo, com a mente tão mas tão apagada, mas nunca me acomodei. Eu pesquisei, eu lutei, eu tinha a certeza que vim a este mundo para ser feliz e sabia que ao lutar iria ganhar cada vez mais força para o conseguir e fico triste por ver as pessoas desistir tão facilmente da felicidade. Mas eu já aprendi que cada um tem o seu caminho a percorrer.
11. O amor próprio é um dos temas frequente nas  tuas partilhas nas redes sociais. O que significa para ti ter amor próprio e como o cultivas?
- Eu descobri o amor póprio há muito pouco tempo…. Vivi muitos anos à sombra do ego, mas finalmente descobri que ter amor próprio é colocar-me sempre acima de tudo, gostar de mim como sou, jamais me autocriticar, saber controlar os pensamentos para não sofrer com eles. Felizmente comecei a ter sabedoria suficiente para dizer não ao que me incomoda, ao que me faz mal! Aprendi que elogiar-me ao espelho é uma terapia maravilhosa!! A forma que tenho de cultivar o amor póprio é cuidar bem de mim por dentro e por fora, ou seja, alimentando-me bem, fazendo exercício físico, descansando bem, meditando, praticando as afirmações positivas, sorrindo e enviando luz ao universo.
12. Como mãe de uma filha adolescente qual é, na tua opinião, o nosso papel (de mulheres e mães) na criação de bons hábitos alimentares e uma imagem corporal positiva nos nossos filhos?
Infelizmente hoje em dia é muito comum ver adolescentes com peso a mais e isso deixa-me triste mas também revoltada! A responsabilidade de isso acontecer é dos pais, pois são eles que compram a comida para casa! A educação alimentar faz-se em casa, dando o exemplo. Eu costumo dizer que uma das maiores heranças que deixarei à minha filha é a alimentação que fazemos. A Bruna começou na alimentação vegana há 2 anos e meio, tinha acabado de fazer 15 anos, e não foi porque a obriguei a fazê-lo, ela mesma comprovou o resultado que estava a ter em mim, logo o exemplo fui eu! Se és uma mãe que enche os armários de casa com guloseimas, se preparas refeições cheias de gorduras, se estás sempre a petiscar comida embalada e processada, o teu filho fará igual,certo?! Mais tarde estes jovens irão ser obesos, doentes, cheios de problemas de auto-estima e infelizes, e isso é muito triste! Basta olharmos à nossa volta para ver tanta gente nova a morrer de cancro, já pararam para pensar porque será? Eu faço aqui um apelo aos pais: Sejam atentos, sejam responsáveis e todos serão muito mais saudáveis e felizes!
13. O que te ensinou o teu percurso no veganismo sobre ti própria e qual foi o impacto que teve na tua vida no geral?
- O ensinamento mais importante que tive foi que a comida não me controla mais e isso faz de mim uma pessoa livre! O maior impacto que teve em mim foi passar de uma pessoa stressada, deprimida, negativa, escura por dentro e sem motivação para viver, para uma pessoa mais alegre, calma, confiante e com sabedoria interior para aguentar cada obstáculo que a vida nos propõe, pois eles são meros ensinamentos por que temos de passar para crescer! Sem dúvida que a maior mudança em mim nem foi a física - foi a mental e estarei grata por isso eternamente, pois agora sim, estou a VIVER!


Marisa Vilela: https://www.facebook.com/marisa.vilela.90