24 julho, 2018

Entrevista com o Gabriel Marques: Das doenças e dor crónica para o entusiasmo de viver!

Gabriel Marques – 30 anos, músico e empreendedor. Provavelmente essa seria a apresentação mais esperada e formal. Mas muitas vezes quando leio histórias de vida, sinto que este tipo de descrição nunca encerra em si a essência de uma pessoa. O Gabriel Marques visto pelo meu olhar é um entusiasta da vida – uma pessoa que sabe apreciar as pequenas coisas e o que realmente tem valor, precisamente porque conhece a dura realidade da doença, da fragilidade física e mental, da dor e da sensação de estar entre a vida e a morte. É alguém que com muita facilidade mobiliza e inspira as multidões porque o seu exemplo de vida funciona como espelho no qual muitos conseguem rever-se, descobrir-se e inspirar-se. Vamos conhecê-lo!


1. Gabriel, como descobriste o estilo de vida crudivegano?

- Descobri através de uma amiga no Facebook que me recomendou vídeos do Dr. Robert Morse aos quais já tinha assistido, embora nunca tivesse dado grande atenção a eles. A insistência da minha amiga fez-me olhar para essa informação quando já estava muito próximo de desistir por já ter tentado praticamente tudo a nível de terapias convencionais, alternativas e dietéticas.

2. De que forma começaste a tua mudança alimentar – de forma gradual, primeiro com uma transição para o veganismo, ou diretamente pelo crudivorismo?

- Após um período de cerca de ano e meio numa alimentação paleolítica biológica (sem resultados) acabei por alterar para o crudivorismo de um dia para o outro. Foi uma necessidade porque nessa fase o meu estômago estava praticamente paralisado e a única coisa que entrava eram líquidos e frutas como melancia, uvas e laranjas.

3. De que forma esta alimentação te ajudou a nível físico?

- Simplesmente me tirou de um buraco em que estava entre a vida e a morte. Ajudou-me em todos os aspetos físicos. Desde os mais graves como a doença cardíaca com a qual nasci, até aos problemas intestinais graves, problemas de pele, alergias, arritmias, dores de costas crónicas, artrites, etc.

4. Que mudanças sentiste a nível emocional e mental?

- Na altura em que comecei a mudança estava no meu ponto mais fraco de todos em termos de ansiedade e depressão. Mês após mês essa situação foi melhorando e neste momento sinto me completamente livre desses sintomas. Em termos de ansiedade posso dizer que nunca me senti tão bem e confiante perante qualquer desafio de vida como agora. É algo que nunca tive a oportunidade de sentir. Sinto-me muito aliviado e feliz nesse aspeto. Há dias que posso estar um pouco mais retraído, mas identifico isso como algo que está a acontecer a nível de limpeza física e emocional. É um processo muito natural ao qual nos habituamos.

5. Quais foram os problemas que consideras que conseguiste eliminar apenas com a ajuda da alimentação natural?

- Cansaço extremo crónico, insónia, Síndrome de Intestino Irritável, Nódulos Pulmonares, Dores de Costas crónicas, artrose nos dedos, Depressão, Ansiedade extrema, Tonturas crónicas, Alergias, urticária, hipoglicemia, Fadiga Adrenal, Acne, Blefarite, visão distorcida, falhas de memória, gastroparésia.
É a primeira vez na minha vida que consigo correr durante minutos sem ficar sem ar e sem ficar com o coração acelerado ao ponto de parecer que vai saltar fora. Isto para mim é a primeira vez que estou a ter essa sensação, parece que renasci!

6. Há alguma diferença na alimentação vegan/crua que tinhas enquanto estavas mesmo doente e agora, depois de ter ultrapassado a maior parte desses problemas?

- Sim. Por causa da gastroparésia (paralisia do estômago) fui forçado na altura mais crítica a beber apenas líquidos e comer frutas como melões, laranjas, uvas e melancias. Conforme o corpo foi regenerando e desintoxicando fui introduzindo saladas e muitas gorduras como abacates, azeitonas e sementes de cânhamo. Ultimamente introduzi batata doce, batata e abóbora cozida por questões de conveniência, mas sinto-me sempre melhor se me mantiver 100% cru. O hábito de fazer sumos diariamente continuo a ter. Nunca em 2 anos deixei de fazer sumos (verdes, de fruta e de laranja especialmente).

7. Qual é a tua alimentação neste momento? O que comes num dia típico?

- Sumos naturais espremidos diariamente fazem parte da minha vida pois têm um papel fundamental na forma como sinto o corpo a libertar as toxinas e o muco.
Neste momento consumo 50% frutas; 40% saladas com boas gorduras; 10% cozidos (batata, batata doce, abóbora).
Não como vegetais ricos em enxfore, nem crucíferos desde que iniciei este percurso (como por exemplo alho, cebolas, brócolos, couve-flor, couve) e evito qualquer tipo de vinagre ou produto que possa conter sulfitos. Os sulfitos são, na minha experiência, extremamente tóxicos para o cérebro.
Um dia normal para mim é acordar e fazer logo sumo de laranja ou preparar sumos variados na minha máquina que bebo durante esse dia e o próximo. A seguir como qualquer tipo de frutas ou batido/smoothie. Ao almoço faço uma salada ou como muita fruta também. Durante a tarde se tiver fome como algumas frutas ou mantenho-me apenas a sumo. À noite sou capaz de comer uma refeição grande cheio de vegetais crus e algumas batatas cozidas a vapor de preferência.
Há dias que passo o dia todo a sumo e como apenas uma refeição à noite e sinto que isto é uma alternativa muito eficaz e que o meu corpo parece adorar.
Aos domingos geralmente costumo jejuar a sumo.

8. Na tua opinião, porque é que as pessoas comem tão mal hoje em dia?

- Porque fomos habituados assim e porque temos várias indústrias a incentivar muita porcaria em todo o lado para onde nos viramos por razões puramente económicas. Temos uma sociedade inteira que nos rodeia que se alimenta mal e assumimos isso como sendo o “normal”, portanto acabamos por nem questionar o status quo.

9. Que conselho darias a alguém que está mesmo doente e que fez o que a medicina tradicional tinha para oferecer, mas sem sucesso?

- Diria a essa pessoa que ganhe juízo sinceramente relativamente à medicina tradicional. Juízo no sentido em que temos que ser nós os responsáveis pela nossa própria saúde. Nunca vi alguém a sentir-se bem deixando outra pessoa tomar decisões sobre a sua própria saúde. Diria a essa pessoa que tem que se informar e filtrar as melhores fontes de informação. Para mim a melhor fonte é olhar para exemplos de pessoas como eu e outras que saíram de situações muito complicadas. Pegas na informação dessas pessoas, estudas os livros e vídeos que essas pessoas recomendam, experimentas com o próprio corpo e tiras as próprias conclusões. Mas antes de tudo, para mim, aquilo que maior impacto tem no que observei em mim próprio e em muitas pessoas à minha volta é algo que está bem antes da alimentação e a isso chama-se fé. Fé é acreditares com o teu coração independentemente da cabeça ter razões lógicas para isso ou não. Fé é a melhor motivação de todas.

10. Sabes que hoje em dia muita gente vive para comer e não come para viver. Ou seja, a alimentação deixou de ser apenas algo que fazemos para nutrir o nosso corpo e passou a ser um vício. Na tua opinião, qual é a melhor forma de quebrar esse ciclo vicioso e eliminar o vício?

- No meu caso foi fácil. O sofrimento foi tal que já nem pensava no meu prazer, por isso passei a ver a alimentação apenas como algo para me nutrir e possivelmente tirar da situação extrema em que me encontrava. Relativamente a quebrar o ciclo, inicialmente pode parecer difícil como tudo na vida, mas após um certo período o corpo acaba por mudar e por ajustar-se ao seu ritmo natural. Encontras prazer nesta forma simples de te alimentares após um certo período. Se uma pessoa for criativa, acaba por encontrar ainda mais prazer com o benefício de promover saúde no corpo, mente e espírito.

11. O que é para ti a espiritualidade e consideras-te uma pessoa espiritual? Achas que existe uma ligação entre espiritualidade e comida? Se sim, qual?

- Para mim espiritualidade é no fundo promover o bem a mim e à minha volta. Qual a melhor maneira de o fazer do que a alimentação? Ganhamos saúde, ganhamos vontade de produzir e ajudar os outros, ganhamos mais criatividade, evitamos o sofrimento dos animais e poluímos menos o planeta. Ficamos de tal maneira em paz connosco próprios que ficamos muito mais ao serviço dos outros em vez de estarmos presos ao ego. Ficamos mais conscientes, despertos, fortes e ao mesmo tempo sensíveis ao sofrimento que nos rodeia. A forma mais simples que consigo resumir a espiritualidade é: No passado tinha tendência a procurar livros espirituais de autoajuda e pouco fizeram por mim. Procurava a espiritualidade em vez de me tornar espiritual. E a melhor forma que encontrei para me tornar espiritual foi mudar a forma como me alimento e a gestão do stress que faço através da consciência ativa e da meditação. Acredito que todos nós, humanos, animais e plantas somos uma expressão de Deus. Somos a forma física da consciência e da alma. Acredito que há uma ligação entre nós todos e que podemos viver harmoniosamente entre nós em vez de haver tantas guerras, tantos matadouros, tantas invejas e tanta gente deprimida. Acredito profundamente que este tipo de alimentação poderia mudar o mundo pois, quer queiramos quer não, isto tem um efeito somato-psíquico.

12. Quando olhas para o teu percurso de vida até ao momento, o que achas que a mudança alimentar te ensinou sobre ti próprio?

- Ensinou-me que afinal tudo é possível. Ensinou-me que as melhores coisas da vida vêm através das adversidades e das dificuldades. Ensinou-me que temos que ser gratos pelo facto de estar vivos. Ensinou-me escolher melhor as pessoas que decido ter na minha vida. Ensinou-me que a persistência e a fé são muito importantes. Ensinou-me que existe uma força e consciência universal que nos dá tudo o que precisamos no momento certo quando estamos prontos para o receber. Ensinou-me que sou muito mais forte do que acredito ser.


Gabriel Marques: https://www.facebook.com/GabrielMarquesBliss