"E
as proteínas?! Onde estão as proteínas?" - esta é uma das
perguntas mais frequentes que as pessoas colocam com ar absolutamente
aterrorizado, assim que contactam com o crudivorismo pela primeira vez. É
uma peocupação válida e compreensível dada a importâcia das poteínas para o
nosso organismo, que no entanto é enfatizada excessivamente pela indústria
alimentar por motivos que todos nós conhecemos, e que pouco ou nada têm a ver
com a nossa saúde. Afinal não podemos esquecer que se trata de uma indústria que
vale muitos milhões, o que por sí só já justifica todo o drama e grande alarido
constante à volta desta questão. Dito isto, passemos aos factos.
As proteínas são constituídas por cadeias
de aminoácidos - a unidade básica das mesmas. O nosso corpo não absorve
proteínas, mas sim, aminoácidos. Acontece que a alimentação crudívora (que se
baseia essencialmente em fruta, vegetais, frutos secos e sementes, rebentos e
algas marinhas) é riquíssima em aminoácidos, por não dizer que contém todas as
vitaminas, minerais e fitonutrientes, exactamente nas proporções necessárias para garantir o melhor funcionamento, tendo em consideração a nossa espécie,
anatomia e fisiologia. Um exemplo engraçado são os animais mais próximos de nós,
geneticamente falando – os macacos. Como é que eles conseguem ser sete vezes
mais fortes que o ser humano, se não comem proteínas de origem animal? Como é
que obtêm as suas proteínas? Como é que conseguem sobreviver e não ficar com
osteoporose ou défices nutricionais? No mínimo, dá que pensar, não é?
Afinal qual é a percentagem de proteínas que o nosso corpo necessita diariamente? Precisamos que 5% a 10% no máximo da
nossa ingestão calórica total seja proveniente de proteínas, o que é facilmente
atingível com uma alimentação crudívora. Cerca de 5% das calorias da maior
parte da fruta provém precisamente das proteínas, por não falar nos vegetais,
especialmente os de folhas verdes - facto este que normalmente é uma grande novidade para a maior parte das pessoas.
Hoje em dia costumam escrever-se rios de tinta sobre a necessidade de comer proteínas para ter uma boa saúde, dentes e ossos fortes, quando na
realidade a ênfase deveria ser precisamente em toda a panóplia de doenças e
problemas de saúde sérios, provocados pelo excesso de proteínas, tais como: cancro,
doenças cardíacas, artrite, osteoporose, acidoses metabólicas, disfunções
renais, entre muitas outras. Níveis elevados de proteínas são sinónimo
de níveis elevados de acidez, que obrigam o organismo a gastar as suas próprias
reservas de cálcio dos ossos e dentes, o que dá origem a diversos problemas de
saúde. Não é por acaso que as fracturas e casos de osteoporose são mais comuns precisamente nos países em que se consomem mais lacticínios e produtos
de origem animal no geral. O problema é que a ênfase nunca é posta nestes
factos inegáveis, pelo que a grande maioria de pessoas desconhece por completo
a verdade. E a verdade é esta: o problema não é a suposta carência de proteínas
que vamos desenvolver ao não consumir produtos de origem animal, mas sim, o
consumo excessivo de proteínas, que praticamente toda a gente hoje em dia tem.
Quais são as consequências de um excesso de proteínas? O que acontece após a
metabolização e eliminação dos excessos, é uma sobrecarga do fígado e dos rins
que, uma vez tornada sistemática, dá origem a problemas inflamatórios e a um
aumento desses mesmos órgãos – situações pelas quais certamente ninguém gostaria
de passar.
E uma vez
esclarecida a questão das proteínas sob o ponto de vista da saúde, vem sempre a
questão estética, não raras vezes por parte dos homens.
"Mas eu preciso de proteínas, porque não quero perder massa muscular.
O que faço?". Muito simples. Quem realmente pretende aumentar a sua massa muscular
e conciliar o estilo de vida crudívoro com os treinos e prática desportiva
precisa de: 1) aumentar o consumo de hidratos de carbono antes dos treinos, de
modo a satisfazer as necessidades energéticas; 2) garantir uma recuperação
muscular adequada, através do consumo de hidratos de carbono após os treinos e
descanso suficiente; 3) aprender a usar a fruta como combustível e os vegetais
(especialmente os de folhas verdes) devidamente combinados com gorduras (frutos
secos e sementes) para potenciar o aumento da massa muscular; 4) recorrer,
opcionalmente, ao consumo de alguns alimentos ricos em proteínas como é o caso
das algas (spirulina, clorela), algumas raízes (ex.: maca) e sementes ricas em proteínas (ex.: chia).
O segredo está mesmo na ingestão calórica: se alguém gasta diariamente muitas
calorias, é óbvio que precisa de comer o dobro e o triplo quando comparado com
alguém que passa o dia no escritório e a noite no sofá. Uma ingestão calórica
adequada combinada com treinos regulares torna fácil a manutenção e até mesmo o
aumento da massa muscular. Isto, por não dizer não existem resultados nenhuns
que sugiram que o facto de ter treinos intensivos com regularidade implica
consumir mais proteínas de modo a manter a massa muscular. Precisam de
calorias extra, não de proteínas extra!
Então porque é que as pessoas perdem tanto
músculo quando se tornam crudivoristas? - perguntariam alguns. Estarão de facto a
perder músculo? Aqui voltamos novamente à questão das
quantidades de comida. É possível perder massa muscular, apenas e quando as
pessoas não comem o suficiente em termos de quantidades. A partir daí é um
ciclo - a pessoa não come o suficiente, não tem a força necessária para treinar
como anteriormente, e como resultado os músculos começam a atrofiar. É uma
resposta natural do corpo - quando não utilizamos os nossos músculos, começamos
a perdê-los. Daí que quando deixamos de comer produtos de origem animal,
torna-se muito importante aumentar a quantidade de hidratos de carbono ingeridos,
de modo a satisfazer todas as nossas necessidades.
Perder peso nem sempre é
sinónimo de perder músculo! Quando as pessoas passam a ter uma alimentação
predominantemente crudívora, é completamente normal perder peso, principalmente nas fases
iniciais. Tanto homens, como mulheres perdem gordura, lixo metabólico e
líquidos retidos. Contudo, se houver uma mudança de hábitos alimentares e uma ingestão
calórica adequada proveniente das fontes certas (fruta,vegetais, frutos secos e
sementes), chega sempre um ponto em que o peso estabiliza e a partir daí é
perfeitamente possível desenvolver a musculatura, inclusivamente com uma
qualidade do tecido muscular muito melhor. Resumindo e concluindo, tudo se
resume ao seguinte: Apostar sempre em alimentos no seu estado natural e inalterado, porque
embora a pirâmide alimentar que está actualmente em vigor possa ser fonte de
muito dinheiro para alguns, para nós, consumidores, mais cedo ou mais tarde
acaba por ser fonte de muitos problemas. A escolha é, somo sempre, nossa.